Cuidado, contém alguns GRANDES SPOILERS!!!
Autor: David Levithan
Editora: Suma de Letras
Ano: 2013
ISBN: 9788501099518
Skoob: Livro
Sinopse: "Neste novo romance, David Levithan leva a criatividade a outro patamar. Seu protagonista, A, acorda todo dia em um corpo diferente. Não importa o lugar, o gênero ou a personalidade, A precisa se adaptar ao novo corpo, mesmo que só por um dia. Depois de 16 anos vivendo assim, A já aprendeu a seguir as próprias regras: nunca interferir, nem se envolver. Até que uma manhã acorda no corpo de Justin e conhece sua namorada, Rhiannon. A partir desse momento, todas as suas prioridades mudam, e, conforme se envolvem mais, lutando para se reencontrar a cada 24 horas, A e Rhiannon precisam questionar tudo em nome do amor."
“Justin ouve musica barulhenta e desagradável em
uma estação barulhenta e desagradável na qual uns DJ’s barulhentos e desagradáveis
fazem piadas barulhentas e desagradáveis como um meio de passar as manhãs.”
A não tinha um corpo apenas seu. Não tinha uma vida.
Todos os dias de sua existência ele acordava em uma pessoa diferente. Em um
corpo diferente, com necessidades diferentes. Até então, para ele isso era
normal. Para ele, todos eram assim. Mais com o passar dos anos, A foi vendo que
nunca haveria um amanha para ele. “Isso não é um adeus, é apenas um ‘boa noite’!”,
mas para ele era um adeus. Pois na manha seguinte já não estaria mais ali. A
única coisa que ele conseguia manter era seu Email. Anotava como havia sido os
dias e o e-mail de cada pessoa que onde havia habitado.
Para sobreviver a cada vida nova, A tinha acesso as
lembranças das pessoas. Nomes, números de telefone, e-mail, localização,
personalidade, lembranças da infância, fatos do passado, os gostos da pessoa e
tudo que poderia saber. Ele nunca ficava mais do que um dia no corpo da pessoa.
Nunca era a mesma pessoa e eram sempre pessoas da sua idade, ou seja, 16 anos.
Até que certo dia, ele acorda como Justin. Um verdadeiro bosta no quesito ser
humano. Ele conhece Rhiannon sua namorada – na verdade a namorada do Justin. E
algo nela o chama a atenção. No jeito recluso dela, mas dá para sentir de longe
que ela pede para ser vista, reparada. Justin não fazia isso, ele estava com
ela, mais não se portava como namorado, para ele era apenas sexo.
“- Me diga aonde você quer ir? – Pergunto de novo –
Me diga aonde você adoraria de ir de verdade.
- Quero ir até o mar. Quero que você me leve até o
mar.”
E é ai que pela segunda vez, A se sente diferente - Ouve
uma primeira vez, com Brennan, A era Ian naquele dia, trabalhava em um cinema,
Brennan havia ido á sua cidade visitar os primos, eles flertaram na fila da
pipoca, e ao que parece Brennan havia perdido o inicio do filme, e resolveu
sair, como o cinema era pequeno, quando uma sessão estava rolando o lugar
ficava deserto, então A, ou Ian, teve que contar todo o filme a Brennan, no fim
trocaram e-mails, o que durou cerca de um mês, até que Brennan começou a querer
mais, e já estava cogitando voltar a cidade para visitar Ian novamente. Depois disso, A teve
que mentir e acabar com o relacionamento. Disse que estava em outra, e Brennan
nunca mais voltou a falar com ele. – O que ele sente por aquela garota pequena,
frágil e ao mesmo tempo forte começa a aflorar. Só tem um problema, A nunca
mais será Justin novamente. E isso impossibilita as possibilidades de os dois
se conhecerem realmente.
Mas mesmo diante de tantos obstáculos, A volta,
primeiro como uma garota, Amy, que morava a apenas uma hora de Rhiannon. Finge
ser nova na escola, e pede ajuda a ela, que de imediato mostra tudo ao redor.
Passa o dia inteiro com ele. Dois dias depois, A acorda como Nathan, descobre
uma festa nessa noite – visitando o e-mail de Justin sorrateiramente – e também
descobre que Nathan está à uma hora e meia da cidade de Rhiannon. Ele tem que voltar até a meia noite – por
causa de seus pais, e por que á meia noite ele apaga e vai pra outro corpo.
A encontra Rhiannon novamente na festa, eles
conversam, Nathan se diz “gay” e Justin deixa que Rhiannon e eles dancem. É
tudo tão novo para A que ele perde a hora, mesmo se corresse não daria tempo de
voltar a tempo, é obrigado a deixar Nathan em uma interestadual á uma hora de
casa.
E nessa pressa, A deixa buracos na lembrança de
Nathan. E o pesadelo começa. Pois Nathan é acordado na manha seguinte por um
policial e diz ter sido possuído pelo demônio por um dia. A afirmação vira
noticia, e pra ajudar, A não havia apagado seu E-mail do computador de Nathan.
“Concentro-me no presente, porque é nele que estou
destinado a viver.”
Não dei muita atenção para o livro de inicio não.
No começo achei chato, monótono. Não pensei em
desistir, até porque adorei a intensidade com que David Levithan escreve. Mais
a história não me chamava muita a atenção. Lá pela pagina 100 minha opinião
mudou. As coisas ficam mais intensas. A vive com esse conflito interno, ele ama
Rhiannon, mais não pode ter nada concreto por nunca ser a mesma pessoa todos os
dias. Por dentro era sempre o mesmo A, a mesma Essência, um hospedeiro, mais
por fora não, e estava sempre em um lugar diferente. Um relacionamento nessas
condições seria impossível.
Funciona de tal forma, A nunca repete um corpo,
nunca dois dias na mesma pessoa, ele vai passando de pessoa a pessoa todo santo
dia, sempre da mesma idade, mais não como um ponto fixo.
Se a pessoa com o mesmo tempo que ele morasse a duas
horas do hospedeiro em que ele estava, ele iria para lá. Como ele mesmo disse,
se ele estivesse em uma cidade grande e bem populosa – minha cidade luz, Nova
York – ele nem sairia da cidade, por ter muitas opções, seria uma forma de
viver sempre no mesmo lugar, e ver algo evoluir de verdade. Mais não é tão fácil
assim. Imaginem o medo dele quando ele entrou no corpo de um cara que ia pro
Havaí nesse dia, pra uma festa de casamento! A pirou!
E esse é o ponto alto do livro. Todo dia uma pessoa
diferente. Sexo diferente. A não tinha sexo, era os dois e nenhum ao mesmo
tempo. Ele amava Rhiannon, mais já amou Brennan, um garoto, não havia
preconceito em sua cabeça. Ele acordava em corpos de meninas, de meninos, de
lésbicas, de gays, de drogados e etc. Para ele era sempre a mesma coisa.
Gosto dessa percepção que o autor traz. Apenas um
ser, querendo existir.
O autor não tenta explicar essa situação de A, ele
não tenta enfiar em nossa mente um contexto que leve a isso, e isso é o mais incrível
no mundo, assim como uns são negros, brancos, asiáticos, homossexuais,
cristãos, budistas, A era alguém que acordava sempre em um corpo diferente. Não
tenta buscar uma resposta religiosa, uma milagre divino. Essa a minha condição,
é isso que sou. E gosto do pensamento dele, gosto desse pensamento.
No final do livro essa percepção muda, quando A
encontra alguém igual a ele, que poderia lhe mostrar como ficar mais tempo em
um mesmo corpo. E isso passa por sua cabeça quando ele acorda como Alexander.
Um cara legal. Um cara realmente legal. Ele pensa em procurar essa pessoa igual
a ele e pedir ajuda, mas eis que entra a questão: Alexander está ali, em algum
lugar. E aceitar viver a vida dele, seria o mesmo que mata-lo, ceifar dele a
chance de viver a própria vida, o próprio presente e passado. Seria acabar com
uma vida, para poder viver a sua. Seria justo? A sua vida tem mais importância
que a de uma outra pessoa?
Pensem ai, comigo, cabeça com cabeça, e se o que
aconteceu com A, essa forma de existir dele, tenha acontecido exatamente por
isso? E se algum outro ser como ele, houvesse roubado seu corpo e decidido
viver a sua vida ali, jogando A para esse estado de existência? E se isso não
passar de um circulo vicioso? ‘Hey, gostei da sua vida, quero ela, puff’ você
se vê acordando em um novo corpo todos os dias por conta disso, até aprender o
truque e fazer a mesma coisa, colocando outra pessoa no seu lugar.
E se na história A fosse a vitima? Isso daria a ele
o direito de fazer o mesmo?
Eu realmente achei algo que me fizesse pensar de tal
forma que me peguei remoendo isso durante horas, pensando nas possibilidades. E
confesso que o final não podia ser melhor. O que A faz por Rhiannon não tem
preço. Não existe sentimento maior que o dele por ela, por que fazer o que ele
fez, foi sim, pensar no próximo.
“Quero discutir com ela, dizer que os “pecados da
carne” são apenas um mecanismo de controle, por que se você demonizar o prazer
de uma pessoa será capaz de controlar a vida dela.”
Creio eu que o aspecto mais importante do livro eu
consegui passar, era isso que eu queria que vocês vissem antes de julgar ou ler
o livro. Amei a forma que David escreve, o jeito intenso e verídico, o olhar
sem preconceitos e subjulgamentos do personagem abrem portas amplas na sua
cabeça, questionando certas verdades. Um livro incrível.
Ah, deixa eu ver se eu entendi a capa mesmo. É como
A disse no livro a respeito de Rhiannon, uma pessoa querendo viver além da
janela de seu quarto, viver novas opções. Eu deduzi isso, pode ate estar errado
mais eu sinto isso, e é isso que vale!
Não se prendam a minha resenha, existem outros temas
bons para se discutir no livro, ou para se comentar. Mais para mim, o livro em
si se resumiu nesse drama de ser ou não ser, de ter e ao mesmo tempo não ter.
Baseou-se no anseio de A de poder viver um amor, e na tristeza de Rhiannon em
não poder suportar uma vida assim, sem certeza, sem poder dormir e acordar ao
lado de A.
Magnificamente lindo!
Também achei este livro magnífico.
ResponderExcluirÉ bastante filosófico, mas de um jeito simples.
A narrativa de David L. é incrível!!
Adorei a resenha. E quanto a capa, também achei o mesmo que você, vidas através da janela!
Já estou seguindo.
Bjkas
Lelê Tapias
http://topensandoemler.blogspot.com.br/
Gostei muito do livro também :D Tal como você, achei um pouquinho de nada monotono no inicio, mas logo a narrativa vai ganhando velocidade e é quase impossivel parar. E a narrativa do David é tão linda... Bem profunda. Além dele brincar com várias questões durante o livro... como a questão de gênero e identidade da personagem, e etc...
ResponderExcluirAmei sua resenha :3
Vou tentar acompanhar o blog
Beijos
www.vicioempaginas.com.br