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Para quem não conhece, vamos lá, afinal, ZaaKar.com
também é cultura. O Instituto Tomie Ohtake, situado entre duas grandes avenidas
da cidade de São Paulo - Faria Lima e Pedroso de Morais - e entre dois prédios
comerciais, do Grupo Aché, é um prédio arquitetado por Ruy Ohtake com tecnologia
de ponta do setor da construção e tem cerca de 65.000 m². Esse espaço, criado
por Ruy, e batizado com o nome de sua mãe, a grande artista, Tomie Ohtake, tem
por "objetivo" integrar trabalho, Cultura e lazer, trazendo para a cidade de São Paulo um pouco
das tendências estéticas, nacionais e internacionais, além daquelas que lhes
servem de referência. Por ser um Instituto, vale lembrar que eles não tem um
acervo específico, eles apenas recebem exposições, mas não se responsabilizam
por elas, por assim se dizer.
Para quem não conhece, Tomie Ohtake, é considerada a
“dama das artes plásticas brasileiras”. Nascida em Kyoto, no ano de 1913, acaba
vindo ao Brasil em 1936 e como qualquer outro estrangeiro, se encanta pelo
lugar. É legal associar que tudo que será dito aqui nesse post, remete e muito
ao período da Segunda Guerra mundial, uma fase de explosão cultural que vocês nem tem ideia.
Ela acaba ficando por aqui, se casa e tem
dois filhos, Ruy e Ricardo. Em 51 volta ao Japão pela primeira vez desde que
havia chegado ao Brasil, e produz sua primeira pintura em 1952. Em 1953 começa
a mudar seu traçado para algo mais abstrato e daí em diante começa a criar uma
carreira de sucesso no mundo da arte. Sua capacidade de renovação está expressa
nas diferentes fases de sua pintura e nas suas composições de gravura e
escultura.
Feita essa pequena apresentação, vamos ao foco, que é uma incrível
exposição chamada “Obessão Infinita” produzida por outra Japonesa,
chamada Yayoi Kusama, que, se você tiver a oportunidade de conhecer, vale e
muito a pena. A exposição ficara aberta até o dia 27 de Julho, então não perca.
São mais ou menos 100 obras, maravilhosas, mostrando
a evolução artística datadas entre os anos de 1950 e 2013. Yayoi, nasceu no ano
de 1929 na cidade de Matsumoto. Sua mãe nunca aceitou sua veia artística, o que
já era de se esperar, levando em conta sua cultura e a época em que vivia. Seu
trabalho é uma mistura de diversas artes como, colagens, pinturas, esculturas,
arte performática e instalações ambientais, onde é visível uma característica
que se tornou a marca da artista: A obsessão por pontos e bolas. Mas como
muitos dizem, suas obras não se resumem a apenas isso. Em todas as suas artes, que
possuem um quê de surrealismo, modernismo e minimalismo, podemos notar o padrão
de repetição e acumulação. Além disso, Kusama também atua na arte da
literatura, com romances e poesias, escritas em 13 livros. Alguns dos seus
romances são considerados chocantes e surrealistas, com personagens fortes como
prostitutas, cafetões, assassinos, auto retrato de si própria como Shimako,
enlouquecida em Foxgloves Central Park.
Ao que dizem, é “graças” á esquizofrenia que Kusama
tem a percepção do mundo que tem, sem falar que os conflitos com sua mãe também agravaram um pouco esse quadro. Vemos com clareza a evolução artística dela
seguindo em ordem cronológica o circuito de obras. Começamos com quadros á óleo,
simples, abstratos, dos anos em que produzia em sua terra natal. Nem todas as
suas obras estão nesse acervo, já que, sua mãe acabou queimando muitas delas. Mas
é possível ver a diferença de influencia entre os períodos em que ela produzia
em Matsumoto, e quando em 1957, ela viaja até Nova York, e entra em contato com
Donald Judd, Andy Warhol, Claes Oldenberg e Joseph Cornell. Eis que o Minimalismo
e a Art Pop acabam ganhando lugar.
Após passarmos os quadros, e presenciar essa
evolução, podemos presenciar as tão famosas “Acumulações”, ou seja, os objetos
de uso diário, utensílios de cozinha, vestuário, mobília, todos cobertos completamente por Falos – ou seja, para você que não sabe que raios é isso, falos nada mais é, nesse caso em especial, um
tipo de espuma coberta por tecido, que fazem alusão ao pênis. Ok, não chame
Jesus, já explico o porque disso. Kusama sofria um certo tipo de “fobia” de
relações sexuais, mais precisamente, da penetração. Ela não se sentia a vontade
com isso, nem imaginar ela conseguia, e uma forma de extravasar isso, foi
criando esses objetos, cobertos completamente por Falos. Vemos até mesmo um
barco, ou canoa, que ela achou jogado nas ruas de Nova York. Ela pegou esse barco, levou
para seu ateliê e fez o mesmo, encheu ele de Falos. Com esse barco
nasce a famosa “Uma Amostra de Mil Barcos”, ou seja, ela pôs esse barco em uma sala, e
como papel de parede ela usou a foto desse mesmo barco, repleto de falos,
repetido 999 vezes. Teto, parede, chão, é peroka pra todo lado minha gente. Se você
leu minha resenha sobre a Gucci, deve se lembrar da época em que a Guerra estava
no auge, e havia certo tipo de escassez de material. No caso de Kusama
aconteceu o mesmo. O Barco em si é um exemplo disso. Vejam algumas fotos:
Com o auxilia da nossa guia – Laura, velho, você é foda, se estiver lendo isso, dá um oi aqui! – passamos por mais algumas instalações, como uma sala repleta de fotografias, e outras pequenas obras. Por um quarto repleto de pontos de luz. No chão, na mesa de centro, na cômoda, gente, haviam pontos de luz por todas as partes. Passando essa sala, nos vemos envoltos em uma corredor cheio de grandes quadros, todos com uma mesma coisa em comum, a repetição, obsessiva, das bolas. Chega a ser intrigante você chegar perto das obras, ver o traço, a delicadeza e imaginar uma mulher fazendo aquilo sem se cansar.
E dai a sala mais esperada chega até mim... Antes vejam esse vídeo caseiro,
que não foi feito em casa, mas é de minha autoria...
Eu fico até sem palavras para descrever dessa sala,
vamos chamá-la de “Sala do Infinito”. É uma sala pequena, toda espelhada, com
pontos de luz – não são pisca-pisca, são realmente pequenas bolinhas, presas em
fios pretos por todos os lados – que vão mudando de cor, nas bordas do caminho
um espelho d’água intensifica ainda mais a experiência. É como se aquilo dali
não tivesse fim. É realmente lindo, lindo de morrer gente. Você entra em um
estado de êxtase, que eu realmente não consigo descrever. Minha real intenção
ao ir naquela exposição era ver essa sala em especial, e eu juro, não queria
sair de lá. Esqueçam essa mulher gritando “Um passo para a frente, por favor”,
acreditem, é um trabalho necessário, pois, o público fica tão perdido, tão
desnorteado com a beleza, que 1) esquece de respirar e 2) esquece de andar,
travando a passagem dos outros, que também querem ser inundados por tal graciosidade. Os comentários são os mesmos: “Ah, eu quero morar aqui”, “Vou
fazer isso no meu quarto”...
Só fiquei decepcionado mesmo, foi com a Sala dos Falos. Era umas das salas mais comentadas, e mais amadas também, que
basicamente, ela uma sala toda espelhada, com falos coloridos pelo chão, como
se não tivesse mais fim, só que gente, estávamos em uma excursão, tínhamos horário,
e a fila era gigantesca e parecia não andar nunca. Acabou que não deu para
ver essa sala em especial. Vejam essa foto da internet com crianças sortudas se divertindo no meio do falos... Ok, meio estranho, mas de boa, deixa off!
Mas recompensamos com a sala onde você deixa a sua marca
na obsessão da Kusama. Já na entrada você ganha uma cartela de adesivos de
bolas, em todas as cores, de vários tamanhos, para você colar em um quarto.
GENTE, quase tive uma sincope, era um quarto, com sofás, cadeira, mesa,
estante, lustre e etc. E TINHA BOLA EM TODOS OS LUGARES. Chegava a dar dor de
cabeça, de tantas bolas que tinha lá. Sem falar no calor que estava o lugar.
Era muita gente e muita bola pra pouco espaço. Minha esperança era levar uma “lembrança”
do lugar, mas o segurança da sala disse que não podia levar as cartelas embora,
tinha que devolver na saída da sala. Daí o que eu fiz? Fiz isso:
E houve boatos de que a gente não podia levar os
adesivos da "Obsessão Infinita" pra casa. Hahaha' senhor, sinto
informar, mas, ha uma quebra nessa sua segurança! Bolas pra todos os lados, no
teto, nas paredes, no chão, nas cadeiras... Daí a gente ohou para o lado e viu
um sofá: “Hey, olha, um sofá cheio de bolas... Vem gente, senta ai, vamos tirar
uma foto!"... Daí o segurança grita: "Não toquem nos moveis
pessoal"... Só lembro de todo mundo vermelho e: "KARAIO A GENTE TA
SENTADO, LEVANTA, LEVANTA, LEVANTA!!!".
Vimos também uma sala com bolas gigantes, cor de
rosa, com uma tela de LED com a própria Kusama falando algo, mas era impossível
entender. A) por estava em chinês e b) por que estava muito barulho.
Vejam as
fotos que eu tirei lá, e se percam na perfeição.
Bom, eu creio que consegui passar algo para vocês
dessa exposição tão incrível. Se você tiver um tempinho livre, dá um pulo lá,
vale e muito a pena. A exposição está linda e tenho certeza de que é algo que você
nunca vai se esquecer na sua vida. Só para os curiosos, a Yayoi hoje, mora –
por opção – em uma clinica psiquiátrica e acreditem, ainda produz muitas obras.
Deixo claro que, dei apenas uma introdução sobre a vida de Tomie e de Yayoi, se
vocês se interessaram, vale a pena dar uma olhada com mais calma na trajetória
das duas. Obrigado de novo por lerem até o fim. Espero que tenham gostado tanto
quanto eu!