Faz mais de um ano que eu não dou vida a esse
quadro do blog, mas essa é uma semana especial e eu acho que vale e muito a
pena reviver ele - ainda mais se tratando de uma entrevista tão boa.
Mudei algumas coisas, afinal, quem vive de
passado é museu. Conversei desta vez com uma pessoa muito especial. Essa semana
eu trouxe pra vocês uma conversa que tive com o Paulo Roxo Barja, meu professor
de Expressão Corporal e Artística, um grande escritor e músico que tem bastante
para nos ensinar.
Ele lançou recentemente seu livro "Lirismo
Crônico", de forma independente, eu aproveitei esse lançamento para
"sugar" um pouco de informação dele.
1 – Antes de qualquer coisa, fale um pouco de
você pra gente. Além de Professor, Escritor e músico, quais mais ofícios você
esconde? Conta pra gente um pouco dos seus projetos, das suas inspirações, das
suas paixões...
"Olá!
Bom, em primeiro lugar, cada uma das atividades mencionadas esconde um
universo, em si e nas interações que propicia com a sociedade. Um professor
pode ser ajuda decisiva na formação de uma forma de olhar e entender o mundo.
Escrever é refletir e convidar à reflexão. E música é pulsação, saúde, vida.
Gosto
demais de cada uma dessas atividades e meus projetos mais apaixonados
encontram-se justamente nas interfaces: escrever para refletir sobre educação,
educar para incentivar o fazer artístico e por aí afora. Meu trabalho com
literatura de cordel, por exemplo, começou a partir do meu interesse em
educação e até hoje é, a meu ver, influenciado pela minha proximidade com o
universo da música. Ainda nesse espírito de buscar interfaces, tenho interesse
na composição de fotopoemas, fusão entre foto/arte visual e poesia. Minha
inspiração principal é o cotidiano – e dentro dele, naturalmente, a humanidade.
Talvez seja um pouco o “Sentimento do Mundo” de que fala Drummond..."
2 – Você faz parte da grande parcela de autores
independentes que botam a cara no mundo e saem divulgando e vendendo seu
trabalho. Até em que ponto isso é favorável, e a partir da onde a independência
acaba sendo um problema?
"A
independência só é problema para quem coloca o lucro (e altas tiragens) acima
da liberdade. Eu penso em vendas, claro, mas ao mesmo tempo ecoa em mim a frase
do genial cantador Elomar: “Apois pro cantadô e violeiro só há 3 coisa nesse
mundo vão: Amor, viola, alforria, nunca dinheiro...”
Tem
sido um desafio grande manter a proposta de ser independente e ao mesmo tempo
conseguir, digamos, “fôlego financeiro” pra dar conta dos vários projetos
simultâneos... mas o desafio faz parte da Vida, né? Por hora, posso dizer que
me sinto plenamente realizado como escritor a partir da liberdade para escolher
e produzir desde os textos até aspectos como fonte, diagramação, capa e mesmo o
título do livro. Mesmo que tudo isso seja para “público seleto” (eufemismo para
baixas tiragens). Tocar verdadeiramente o coração de uma pessoa já justifica o
trabalho."
3 – Seu mais novo lançamento, “Lirismo Crônico”
nasceu graças á copa, uma mistura de poesia, versos e devaneios, não foi?
Futebol é tão inspirador assim mesmo? Por quê?
"O "Lirismo Crônico” nasceu de uma proposta que defendo publicamente há
muito tempo: a de que precisamos ver o futebol (e os outros esportes) como
Arte. Primeiro, porque esporte é arte mesmo: criação, improviso, emoção,
plasticidade... Ao encarar esporte como Arte, transfiguramos o jogo, que
adquire novos significados, inclusive evidenciando-se os aspectos de integração
e solidariedade. Brinco dizendo que é como um show com dois guitarristas: você
nunca vai ver um dando porrada no outro. Ao contrário! Há um diálogo, às vezes
até um embate ali, porém no sentido mais puro que isso possa ter. Trata-se, em
última análise, de criação conjunta. Como digo num dos Cordéis Joseenses, o
Cordel das Décimas: “Caminhamos todos juntos, meu amigo!”"
O livro
na verdade é composto por crônicas que têm como ponto de partida o futebol (e a
Copa). É meu primeiro livro de crônicas, e com ele busco exercitar a crônica em
seu contexto de registro diário do cotidiano, registro cronológico mesmo – ah,
o Deus Cronos...!
Nesse sentido, “Lirismo Crônico” pode ser lido como um Diário
da Copa. Mas é, definitivamente, um diário lírico, por isso há espaço para
poemas também. E para sonho, esperança, reflexão, superação...
Feita
essa digressão, volto à pergunta e respondo: sim, o futebol é plenamente
inspirador. Porém, mais que tudo, o ser humano é que nos inspira. Sempre!"
4 – A literatura de Cordel é um de seus grandes
talentos, não é? Conta um pouco pra gente do processo de criação deles, das
inspirações. Hoje em dia esse tipo de literatura é cada vez menos vista. Mas e
o público? Ainda é tão grande quanto era há alguns anos?
"Talento, hmmm... quem pode falar de talento, né? Eu preferiria dizer que
a Literatura de Cordel é uma grande paixão, sem dúvida. E acho inclusive que o
Cordel segue firme e forte no cenário das manifestações artísticas nacionais. O
público é potencialmente do tamanho do Brasil, eu diria. Nunca ouvi ninguém
dizer “não tolero cordel” ou coisa assim. Em resumo: você ainda pode encontrar
gente (principalmente aqui no Sudeste) que não conhece, não sabe o que é cordel
– mas dificilmente vai encontrar quem não goste."
5 – Queremos saber de exclusividade! Novos
projetos, novos livros, conte tudo o que puder – e o que não puder também – que
nós queremos saber!
"São
muitos projetos, muitos mesmo. Mas todo mundo que navega nesse mar sabe que
ficar falando é meio “arriscoso”. Cão que ladra, já viu... Há dois projetos em
andamento que são muito significativos para mim: o primeiro livro inteiramente
ilustrado e um livro coletivo, que vem sendo elaborado com alunos da FCSAC/UNIVAP.
E há as parcerias musicais com gente incrível como o Oswaldo Almeida Jr... Em
resumo: como tenho um perfil muitas vezes de “criador solitário”, os projetos
coletivos sempre são extremamente importantes para mim."
E pra finalizar, queremos saber: Qual a Frase ou
Palavra, que anda com você o dia inteiro, e qual é o significado dela pra
você?!
“Eu
prefiro ser essa Metamorfose Ambulante do que ter aquela velha opinião formada
sobre tudo.” Acho que o significado disso é: viver a Vida de modo renovado a
cada dia. Vale para mim – e espero que sirva também para minha produção
literária.
***
Gostaria de agradecer ao Paulo, por esse Bate Papo maravilhoso, e espero poder falar sempre de seus futuros lançamentos aqui. Para vocês, que se interessaram pelo trabalho do Paulo, vou deixar aqui pra vocês o Blog de Cordéis dele e a sua Página no Facebook também. Deem uma cutucada lá, conheçam mais do trabalho dele, vale muito a pena!