20 de julho de 2015

Resenha - Que tipo de homem escreve...

Cuidado, pode ter alguns Spoilers!!! Mas leia mesmo assim!
Livro: "Que tipo de homem escreve uma história de amor?"
Autor: Luciana Pessanha
Editora: Rocco
ISBN: 9788532529695
Ano: 2015
Páginas: 256
Skoob: Livro
Estrelas: 4

Sinopse: "Um jornalista infeliz que perde o emprego e decide se tornar escritor é o protagonista do novo romance da jornalista e roteirista da TV Globo, Luciana Pessanha. Narrado em primeira pessoa, o livro é centrado em Daniel Teixeira, que, aos 34 anos, tenta dar um novo rumo para a sua vida, embora não saiba muito bem como fazer isso. Com uma linguagem simples e direta, que inclui pitadas de humor ácido, a autora mergulha no universo masculino para traçar o perfil de um homem em crise".


***

Essa semana tem mais um nacional aqui para vocês. Vi esse livro no Instagram da editora Rocco e não aguentei. Tive que comprar. Livro bom é o livro que te puxa apenas pela capa. Já começa por aí.
Para quem não conhece, o que acho bem difícil, a autora desse livro se chama Luciana Pessanha, escritora, roteirista e dramaturga bastante conhecida aqui no Brasil. Não adianta dizer que não conhece, pois ela hoje trabalha na produção do programa “Amor&Sexo”, além de já ter trabalhado no seriado “A Grande Família” e na novela “Babilônia”. Já falei que ela colaborou com João Emanuel Carneiro na novela “Avenida Brasil”? Pois é meu povo, essa é das grandes! Pessanha também é Professora de Publicidade na PUC-Rio e em 2012 escreveu para o teatro a peça JT – Um Conto de Fadas Punk, inspirada na vida e obra de JT LeRoy. O texto foi encenado no SESC Consolação, com direção de Paulo José, e elenco formado por Natália Lage, Débora Duboc, Nina Morena, Hossen Minussi e Roberto Souza.

“O amor é a ultimo utopia, Daniel. O capitalismo não deu certo, o comunismo e o socialismo micaram, o amor romântico é a última chance do ser humano não vagar sozinho num mundo que não faz o menor sentido”.

Que Tipo de Homem escreve uma história de amor é o mais novo lançamento da escritora. Na história, Daniel, um jornalista formado que trabalha numa rede de TV razoável, recebendo um salário razoável e vivendo uma vida razoavelmente confortável, decide chutar o pau da barraca – literalmente – depois de ter que anunciar a vitória do São Paulo contra o Atlético Paranaense. Foi nesse momento, no jornal da madrugada, que ele mesmo assinou sua carta de demissão. Ele estourou em TV aberta, visivelmente alterado, com uma expressão de desdém e com uma ausência total de profissionalismo. Era isso que a sua demissão dizia.
Ele queria mais era que todos e tudo explodisse. Decidiu que seguiria o sonho dele, ou seja, escrever um livro. Chega dessa falsidade toda da TV, dessa mentirada toda, ele não seria mais imparcial, ele deixaria a sua marca no mundo. Vendeu sua casa, carro e bens, tudo para ficar o máximo de tempo possível tranquilo, apenas escrevendo. De início ele iria morar em uma pousada qualquer, mas sua amiga de infância, Ana, resolveu emprestar a sua casa para ele.
Ana estava viajando e conhecendo o mundo, sem data nem previsão de volta. Poderia ser amanhã, daqui há um mês ou em anos. Talvez, até, nunca voltasse! Dessa forma, ofereceu o apartamento de paredes rosa e azul para seu amigo. Daniel então estava feito. Agora era só sentar e escrever... O mais fácil, não é? Não.
Já ouviu falar em bloqueio? Pois é. Daniel estava bloqueado. Não sabia sobre o que escrever. Tinha 34 anos, mas sua breve vida não daria uma biografia e ele também não queria isso. Ele queria escrever sobre tudo, mas não tinha nada em mente. Tentando arrumar assunto para a sua história, Daniel decide entrar em um chat de bate papo, lá, depois de marcar um encontro com o Roque Motoqueiro – sob o nome de Isabella33, pois queria ter história para contar – e presenciar a tristeza do rapaz ao esperar por horas a chegada da garota misteriosa, ele decide entrar como ele mesmo e ver o que acontece... É ai que ele conhece Lolla22, uma advogada que nunca conseguiu ter um orgasmo durante o sexo. Mal sabia Daniel que, graças a Lolla22, sua vida se tornaria digna de um livro. Isso sem falar de Ana. Eu contei que Daniel sempre amou Ana?
Bem-vindos ao Que tipo de homem escreve uma história de amor. Uma história que mistura bloqueio, viajem, sexo, gastronomia e um pouco de poesia!

“- Você acha que esta indo encontrar quem? A Carrie Bradshaw?
- Quem?
- A da boceta mágica dos diários? Você tá indo atrás de migalha, Daniel! De palavrinha escrita em caderno! Mi-ga-lha!”.

Comecei a ler esse livro sem nenhuma expectativa. Fui de cabeça e acabei me surpreendendo com o enredo. Nessa correria toda de tentar fazer algo que preste de sua vida, Daniel decide que vai finalmente escrever seu livro. Mas não tem nada em mente. Começa a viver uma vida regrada a cerveja, futebol, sexo com Verônica, que não sai do seu pé, e um amor platônico entre ele e Ana, que sempre liga descrevendo o que está vendo pela janela do lugar onde está.
A relação de Daniel com Verônica é bem estranha. Ela quer ele como marido, quer morar com ele, faz tudo por ele. Louca do jeito que só ela sabe ser. Ele, por sua vez, não está nem aí para ela. Vê ela apenas como uma cozinheira que o alimenta e um corpo gostoso que o satisfaz na cama. Apenas isso.
De certa forma, chega a irritar um pouco essa relação dos dois. Mas o que se percebe é: Ela gosta de ser tratada da forma que é tratada e Daniel gosta de saber que tem um step, para se caso Ana nunca retorne. Ana acaba se transformando em sua musa inspiradora. Não apenas ela, mas seus diários também. Daniel decide deixar a ética de lado e usar os diários de Ana, cheios de poesias e relatos, para fundamentar sua história. É aí que ele se vê mais louco e fascinado por ela ainda.
Gosto bastante desse estilo de escrever, me lembrou muito a forma como a escritora portuguesa Melissa Panarello escreve. De uma forma mais lírica, profunda, com sentimentos e referências enraizados de uma forma linda e profunda. Daniel e Ana conseguem ter as conversas mais interessantes de todas. Ele pergunta algo e ela fala sobre onde está. Ele reforça a pergunta e ela continua a falar qualquer coisa, menos do que ele perguntou.
Do começo até o meio do livro a história é linear, mostrando o ex jornalista e a sua tentativa desgarrada de escrever algo que seja publicável. Do meio para o final, somos surpreendidos com uma Verônica possessiva, um Daniel meio sem rumo e uma Ana ainda mais perdida que nunca. No final, ha’, no final é só correria. Verônica tenta prender ele com a barriga, Ana finalmente pede que ele vá encontrar ela, e ele, coitado, corre para saber o que será da sua vida.
O tipo de literatura que vai fazer você sair um pouco do chão. Para os jornalistas desgarrados, como é o caso do Daniel e até mesmo o meu, é um prato cheio. Por isso me apeguei tanto ao livro, é uma grande oportunidade de ver o quão difícil é sair das raízes do jornalismo. Largar o hard News e tentar o jornalismo literário, que hoje não tem o mesmo poder que antes – por mais que eu ache ao contrário, o mercado literário está muito, muito forte e competitivo.
Essa cisma eterna chamada “Vai dar certo?’. Um livro que deixa um gostinho de “E ai? Só isso?” no final, mais ainda assim é muito, muito bom. Super indico a leitura!
25/50

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