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“- Você se lembra de quando me
beijou?
- Sim.
- Você se lembra que falei que
não tinha funcionado para mim?
- Por que você esta falando
disso? Lembro, lembro. Mas que inferno, Ari, você acha que eu esqueceria?
- Nunca vi você tão bravo.
- Não quero falar disso, Ari.
Só me faz mal.
- O que eu disse quando me
beijou?
- Disse que não tinha funcionado
para você.
- Eu menti.
[...] – Vamos tentar de novo –
pedi. – me dê um beijo.
- Não. – ele disse.
- Me beija.
- Não – Dante respondeu, para
depois completar com um sorriso. – você vai me beijar.
Puz a mão em sua nuca e o puxei
para mim. E o beijei”.
Benjamin Alire Sáenz, 61
anos, é um premiado poeta, romancista e escritor. Ele nasceu em Old Picacho,
Novo México, o quarto de sete filhos, e foi criado em uma pequena fazenda perto
de Mesilla, Novo México. Ele se formou em Las Cruces High School, em 1972.
Naquele outono, ele entrou para a St. Thomas Seminary, em Denver, Colorado,
onde recebeu um diploma de bacharel em Ciências Humanas e Filosofia em 1977.
Estudou Teologia na
Universidade de Louvain, em Leuven, Bélgica. Foi sacerdote por alguns anos em
El Paso, Texas antes de deixar a ordem. em 1985, ele voltou para a escola e
estudou Inglês e Escrita Criativa na Universidade do Texas em El Paso, onde
obteve um mestrado em Escrita criativa.
Seu primeiro romance, “Carry
Me Like Water” foi uma saga que reuniu o romance vitoriano e o tradicional realismo
mágico latino-americana do e recebeu atenção da crítica. Em seu quinto livro, “What
Remains”, seu quinto livro de poemas, ele escreve à verdade essencial da vida
de memórias sempre mudando. Situado ao longo da fronteira com o México, o
contraste entre a beleza austera do deserto e da brutalidade da política de
fronteiras reflete a capacidade da humanidade para ambos.
Sáenz seassumiu gay no
final dos anos 2000. Ele reconheceu em entrevistas que ele tinha dificuldade em
chegar a um acordo com sua sexualidade devido a ter sido abusado sexualmente
quando criança, e que ele começou a explorar temas LGBT na sua escrita, em
parte como uma maneira de ajudar a si mesmo trabalhar através de seus próprios
problemas com ser gay.
Ele ganhou o Faulkner
Award / PEN para a ficção em 2013, com o livro “Everything Begins and Ends at
the Kentucky Club”, tornando-se o primeiro escritor latino a ganhar o prêmio. Ele
também ganhou dois prêmios em 2013 no Prêmios Lambda, nas categorias de Gay
Male Fiction com os livros “Everything Begins and Ends at the Kentucky Club” e “Aristóteles
e Dante descobrem os segredos do universo”, livro pelo qual falaremos um pouco
hoje.
“- Ari, eu sei o que vejo. Você
salvou a vida dele. Porque acha que fez isso? Por que imagina que, do nada, sem
pensar, você se joga para tirar Dante da frente de um carro em movimento? Você
acha que isso simplesmente aconteceu? Pois eu acho que você não suportava a
ideia de perde-lo. Simplesmente não podia. Por que você ariscaria a própria vida
para salvar a de Dante, se não o amasse?
- Por que ele é meu amigo.
E por que você arrebenta a cara
de um sujeito que bateu nele? Por que faria isso? Tudo isso, Ari, tudo quer
dizer que você ama esse rapaz”.
Eu não sei o que se
passa. De verdade. Eu acho que estou com um dedo mágico para leituras. Apontei
e falei: “Vou ler você” e quando eu vi, já havia terminado a leitura, coisa de
um dia e algumas horas.
Aristóteles Mendonza não
se sente feliz com nada, talvez desde seus dez anos. Ele estava na quinta série
e aquele havia sido um ano incrível. Ah, como foi. Depois disso tudo ficou
ruim. Ele não sabia o porquê, só sabia que estava tudo ruim. Aos quinze anos Ari,
como gostava de ser chamado, não tinha nenhum amigo. A não ser sua mãe e seu
pai. Ele era o filho mais novo de um total de quatro. Suas irmãs, gêmeas,
tinham 27 anos. Seu irmão tinha 25 anos. Mas ninguém falava dele. Nunca. Esse
era um assunto vetado.
Na primeira tarde de
verão daquele ano, depois de ficar entediado em casa, Ari decidiu ir nadar. Era
uma péssima ideia, levando em conta que o dia estava infernalmente quente e ele
não sabia nadar. O máximo que fazia era boiar e olhe lá. Até pensou em pedir ao
instrutor que o ensinasse a nadar, mas eles eram uns idiotas que comparavam
mulheres a arvores. Não valia a pena.
Ari apenas gostava de
ficar sozinho. Ele se dava bem consigo mesmo e seus pensamentos. Na maioria do
tempo ele odiava tudo, inclusive seus pais. Mas ele sabia que isso era só uma
fase. Nada demais, como sua mãe mesmo dizia. Era uma faze e tudo passaria.
Essa mudança começou
quando ele conheceu Dante Quintana. Na verdade foi Dante que o conheceu,
oferecendo-se para ensiná-lo a nadar. Nasceu dali, das aulas de natação e dos diálogos
loucos e sucintos, uma forte amizade. A primeira, e possivelmente mais
verdadeira da vida de Dante. Forte a ponto de fazer Ari se jogar na frente de
um carro para salvar a vida de seu amigo distraído que foi salvar um passarinho
caído. Dante nunca mais foi o mesmo. Ari nunca foi o mesmo. Mas tudo mudou
mesmo quando Dante se mudou com sua família. Seria coisa rápida, oito meses e
ele estaria de volta. Mas e a amizade? A amizade continuaria? Esse talvez seja
um dos segredos do universo, segredos esse que Ari busca inconsolavelmente. O
que ele vai fazer com esses segredos? Ele não sabe, mas no momento em que descobrir,
ele saberá o que fazer.
“O problema da minha vida é que
ela havia sido ideia de outra pessoa”.
Tinha uma visão
totalmente diferente do enredo desse livro. Imaginei algo louco envolvendo
filosofia e etc, mas me enganei. Benjamin Alire Sáenz nos mostra dos garotos
sedentos por se descobrir. Não essa coisa louca de descobrir o corpo e afins,
sabe, essas coisas de adolescente. Não. Ari e Dante são diferentes, são
estranhos e loucos. Um ama palavras o outro poesia. Um é silencioso e tristemente
deprimido, o outro é feliz, criativo e sorridente. Disso nasce uma forte
amizade.
As tudo muda quando
Dante se muda para Chicago. Mas não é Dante que muda, é Ari. Aquele gênio difícil,
de independência, que parece não precisar de ninguém entra em cena. De sete
cartas recebidas de Dante, ele responde apenas uma. Começa a trabalhar, a
malhar, a falar com uma ou outra pessoa. Dante também muda. Ele agora tem
muitos conhecidos, toma cerveja, e vodka com suco de laranja. Ele se masturba e
beija garotas. E garotos. Ele gosta mais de beijar garotos, mas ele nunca
beijou nenhum. Mas ele sabe que quer se casar com um garoto em especial.
Quando ele volta, as
coisas estão estranhas, mas são as de sempre. Ele beija Ari, mas ao contrario dele, Ari não sente
nada de diferente, é o que diz...
“Não se pode tocar aquilo de
que são feitas as estrelas”.
Esse é o típico livro
que não precisa de um mundo de palavras para ser espetacular. O que faz a
narrativa ser tão maravilhosa são os diálogos. Da mesma forma que temos
segredos e mais segredos entre Ari e seus pais, temos uma relação maravilhosa
também. Ele e sua mãe têm os diálogos mais engraçados – só perdem para os diálogos
entre Dante e seu pai, Sam, eles são maravilhosos. Ela é professora. Com seu pai
a coisa é mais curta. Ele puxou isso dele, sabe, essa coisa de ser calado?
Amei o jeito que o autor
nos mostra o crescimento de Ari e Dante. Em um momento temos dois pivetes
estranhos, de quinze anos, rindo e competindo para ver quem joga o tênis mais
longe, e depois temos dois rapazes, muito diferentes, de quase dezoito anos,
lutando para se encaixar. Ari é quem mais muda. Essa coisa toda com seu irmão e
com as histórias de guerra de seu pai o mantém preso dentro de si, ele não
expressa seus sentimentos, guarda tudo o que pode. E com o passar das páginas
vamos tendo mais acesso a ele. Ele muda, e é possível ver, ou visualizar essa
mudança, e isso eu achei lindo. No começo tínhamos um Ari mirrado e magricela e
estranho... Dai aparece um rapaz moreno, forte – por causa da musculação –, enigmático
e muito, muito bonito. Essa evolução é linda de se ver com o passar das
páginas.
“Será que todos os garotos se
sentiam sozinhos? O verão não era feito para garotos como eu. Garotos como eu
pertenciam a chuva”.
Mas, só aqui entre nós,
eu queria mesmo era que ele e Dante terminassem juntos. Não imaginei que o
casal romântico do livro seriam eles, e me peguei rezando para todos os tipos
de deuses que eles se descobrissem. Dava para notar isso em Dante. Na forma
como ele idolatrava Ari. Mas nunca esperei que isso fosse retribuído por Ari.
Mas eu me enganei. E achei linda a forma como isso aconteceu.
O que era amizade na
verdade era amor. Esse talvez seja o segredo do universo. Amor. Todos achavam
que Ari era um herói por ter salvado Dante. Mas, só no fim SPOILER entendemos
que no fundo, Ari tinha feito isso porque amava Dante, e imaginar um mundo sem
ele era um pesadelo. Mas ele não via isso. Tinha suas próprias guerras internas
para vencer antes de aprender isso.
Quando Dante é espancado
é que vemos isso. Vemos a raiva, o medo, o ódio em Ari. Vemos o ciúme também,
já que Dante foi espancado por estar beijando outro cada em um beco. É ai que
as coisas passam a mudar. Mas antes disso, Ari tinha que destravar outras
travas internas. E gente, quando ele faz isso é a coisa mais linda de se ver.
Já podemos notar isso antes do fim, quando ele se abre para Dante e conta o que
descobriu sobre seu irmão, e lê poesia para ele, e quebra o nariz de um dos
caras que bateram em Dante... Está ali, mas ele precisa de um empurrão para
ver. E seus pais fazem isso. E é isso.
Não vão se arrepender da
leitura. Ela é linda, inteligente, rápida e sucinta. É um leitura bonita de se
fazer. Você só vai entender quando ler. Mas é incrível ver tanta raiva e
tristeza evoluir para amor e aceitação. E amizade. Talvez o segredo do universo
seja o amor e a amizade, juntos. Espero que o próximo livro seja assim também
tão encantador e viciante quanto.
32/55