Cuidado, pode ter alguns Spoilers!!! Mas leia mesmo assim!
Autor: Andrew Smith
Editora: Gutenberg
ISBN: 9788501105158
Ano: 2014
Páginas: 304
Skoob: Livro
Estrelas: 5 - Melhor leitura que eu já tive.
Sinopse: "Stark McClellan tem 14 anos. Por ser muito alto e magro, tem o apelido de Palito, mas sofre bullying mesmo porque é “deformado”, já que nasceu apenas com uma orelha. Seu irmão mais velho, Bosten, o defende em qualquer situação, porém ambos não conseguem se proteger de seus pais abusivos, que os castigam violentamente quase todos os dias. Ao enfrentar as dificuldades da adolescência estando em um lar hostil e sem afeto – com o agravante de se achar uma aberração –, o garoto tem na amizade e no apoio do irmão sua referência de amor, e é com ela que ambos sobrevivem.
Um dia, porém, um episódio faz azedar terrivelmente a relação entre Bosten e o pai. Para fugir de sua ira, o rapaz se vê obrigado a ir embora de casa, e desaparece no mundo. Palito precisa encontrá-lo, ou nunca se sentirá completo novamente. A busca se transforma em um ritual de passagem rumo ao amadurecimento, no qual ele conhece gente má, mas também pessoas boas. Com um texto emocionante, personagens tocantes e situações realistas, não há como não se identificar e se envolver com este poético livro".
Um dia, porém, um episódio faz azedar terrivelmente a relação entre Bosten e o pai. Para fugir de sua ira, o rapaz se vê obrigado a ir embora de casa, e desaparece no mundo. Palito precisa encontrá-lo, ou nunca se sentirá completo novamente. A busca se transforma em um ritual de passagem rumo ao amadurecimento, no qual ele conhece gente má, mas também pessoas boas. Com um texto emocionante, personagens tocantes e situações realistas, não há como não se identificar e se envolver com este poético livro".
***
“- [...] Agora você pode dizer
para as pessoas que você dirige a noite e.. ah, com uma mão só, e explode
coisas e beija de língua meninas mais velhas quando ninguém está olhando”.
Eu preciso dizer que
essa resenha não vai ter roteiro nenhum, porque eu realmente não tenho
emocional para montar algo certinho como as outras resenhas. Nessas minhas
outras trinta leituras até então, nenhum outro livro conseguiu mexer comigo da
forma como esse livro mexeu. E eu não estou falando de chorar e de me apaixonar
– não que isso não tenha acontecido. Mas antes, acho importante falar do autor.
Andrew Smith é o
responsável por essa trama. Ele é responsável por nove romances juvenis e já
ganhou diversos prêmios. Nascido na Califórnia, foi durante o ensino médio,
quando era editor do jornal do colégio, que descobriu sua vocação para a
escrita. Graduado em Ciências Políticas, Jornalismo e Literatura, experimentou
a carreira jornalística, mas percebeu que aquele não era o tipo de escrita que
sonhava fazer. Passou grande parte da juventude viajando pelo mundo,
dedicando-se aos mais diversos trabalhos. Ao se estabelecer definitivamente no
sul da Califórnia, tornou-se professor de adolescentes em situação de risco, o
que o inspirou em seus textos.
Incentivado por um amigo
escritor, publicou seu primeiro romance em 2008: A cura invisível, indicado
como um dos melhores livros do ano para jovens adultos. Seus outros trabalhos
também foram muito bem-recebidos pela crítica, entre eles, A lente de Marbury
(melhor ficção juvenil de 2010 pela Amazon, livro do ano pela Publishers Weekly
e escolha do editor pela Booklist) Minha metade silenciosa (também publicado no
Brasil pela Editora Gutenberg) e In the Path of Falling Objects (Southwest Book
Award de 2011). Atualmente, Smith vive na região de montanhas perto de Los
Angeles com a esposa, dois filhos adolescentes, dois cavalos, três gatos e um
lagarto arisco chamado Leo.
“Eu sou feio”.
Eu só posso dizer que eu
senti, talvez pela primeira vez nessa minha vida de leituras, que a história, o
enredo, me envolveram de uma forma única, singular. Eu me peguei horrorizado na
primeira parte do livro. Horrorizado com aquela realidade que Stark e Bosten
viviam. Horrorizado com as regras, com seus pais e suas atitudes, com as
regras, com a falta de afeto e a forma como Stark acreditava, na sua mente
ainda de criança que inicia a faze da adolescência, que aquilo tudo era normal.
Era normal apanha até
ficar em carne viva. Era normal ficar preso dias em um quartinho, pelado, tendo
que fazer suas necessidades em um balde. Era normal não ter nenhum tipo de
afeto materno e paterno... Eu só percebi o quanto eu estava horrorizado com o
caminho que história estava tomando no momento em que a primeira parte terminou
e entrou a segunda, intitulada “Califórnia”. Foi nesse momento que eu percebi
que estava prendendo a respiração e que agora eu poderia soltar. De alguma
forma, na minha mente, enquanto eu estivesse naquela parte o ar ainda estaria
denso demais, lotado de fumaça de cigarro, de dor, de tristeza... E eu não
queria respirar esse ar.
Foi na segunda parte que
eu percebi a forma como um livro muda a sua visão. Quando a tia dos garotos, Dahlia,
apareceu, eu senti, verdadeiramente que havia uma possibilidade de salvação, de
que nessa história, o final pudesse ser feliz. Percebi também que nunca havia
desejado um final feliz tanto assim na minha vida.
Dava para notar a
diferença, o clima. Na Califórnia tudo era leve, colorido, ensolarado e feliz.
Dahlia, que não conhecia os garotos, apareceu na história como um anjo prestes
a salvar duas vidas que tinham tudo para não evoluir para lugar nenhum. O jeito
como o autor mostrou a diferença entre a sociedade foi o que deixou meus olhos
mais marejados e vermelhos. Enquanto na cidadezinha do interior de Washington,
onde, não ter uma orelha era tratado como um anomalia digna de retardo mental,
e em que você era zoado de todas as formas por ser diferente, ou alto demais,
ou quieto, na Califórnia, as pessoas eram mais soltas, sem preconceitos, acolhedoras.
Eu me peguei em vários momentos suspirando pela forma como os dois eram
tratados na cada de Dahlia. Era como se, toda vez que o autor escrevia algo
bom, algo que acontecia som os meninos e que feliz e carinhoso, meu peito se
dilatasse e eu agradecesse a ele por isso. Esse foi o meu nível de
relacionamento com a trama.
Mas nada se comparou ao
momento em que mais coisas se desenrolaram e aconteceram. Não bastasse a
agressão doméstica, o ódio dos pais, a nevoa persistente de cigarro e de
tristeza, as malditas regras de outro mundo – como não poder tomar banho em
casa nos dias de semana por que eles já tomavam na escola – o autor ainda nos
presenteia com algo que só nos deixa mais indignado: pedofilia.
Se o meu peito já estava
preso com tudo o que eu tinha visto até meados da página 100, depois disso ele
se tornou só destroços. Quando você pensa que nada de pior pode acontecer, isso
aparece no seu colo. O autor diz: “Tô, segura essa barra ai”, e você fica lá, paralisado,
tentando processar e visualizar aquela realidade.
De forma bem explosiva e
realista, Andrew Smith nos mostra uma realidade – sim, infelizmente isso deve
acontecer por ai sim, não em escala tão colossal, mas deve acontecer – pungente
e assertiva. Nos apresenta dois heróis, Stark, de 13 anos, e seu irmão e fiel
companheiro, Bosten, de 16. Para compensar todo esse caos e tristeza, o autor
nos presenteia com uma relação de irmãos maravilhosa. De cuidado, proteção,
amor – amor verdadeiro mesmo, verdadeiro ao ponto de se aguentar o que Bosten
aguentava, apenas para ficar perto de seu irmão. Tem um momento no livro, que
eu não vou lembrar ao certo qual é, porque a leitura voou de tal forma que eu
não tive tempo de parar e marcar, que Bosten diz que ele ainda não fugiu,
porque ele não poderia deixar seu irmão sozinho lá. Que se ele fizesse isso,
seria o fim de Stark. “Palitoso” é a forma como Bosten chama seu irmão mais
novo.
Eu acho que nunca, nenhuma
frase em um livro me fez tremer e emoção, e alegria, e agradecimento, quanto a
parte em que Bosten liga, de hollywood para Stark, e diz: “Meu garoto Palitoso”.
Eu chorei sim nessa hora. Eu parei e respirei, porque durante toda a terceira
parte do livro eu sofri achando que Bosten tinha morrido. Eu realmente tive um
calafrio ao ler isso e chorei enquanto sorria.
"E não há amor na minha
casa, somente regras".
Eu acho que todo livro
deveria fazer isso com você.
Deveria fazer você se
apaixonar não só pelo principal ou por um ou outro coadjuvante. Os livros deveriam
fazer você ter emoções diversas em relação a todos os personagens. Emily,
Dahlia, Evan, Him, o caminhoneiro milagroso que eu não lembro o nome, os pais
de Emily... Eu sei que a cada parte que eles apareciam eu agradecia um pouco,
pois sabia que deles não viria nada que pudesse machucar Bosten e Stark.
A forma como todos
parecem cuidar dos garotos me deu um conforto tão grande. Sempre que Stark
dizia algo como “na minha casa nós não usamos pijama”, “Na minha casa nós
lavamos nossas roupas, pois minha mãe diz que coisas de garoto são sujas”, “Na
minha casa nós não podemos ficar na cama”... A cada frase como esse eu ficava
com mais raiva, tristeza e um pouco de dó. Um mix assim de sentimentos.
Confesso que estou
escrevendo isso freneticamente, e que apesar de ter amado incondicionalmente
essa leitura, o final me despedaçou de uma forma que eu não acreditava que
poderia acontecer.
“Tudo estava mudando. Tudo,
menos aquela metade silenciosa da minha cabeça”.
“Bosten está matriculado
em um supletivo, mas não sei se ele aprendeu direitinho a seguir em frente”.
Eu
realmente acho que nunca fiquei tão triste com uma frase como fiquei com essa.
Enquanto presenciamos um crescimento pessoal de Stark durante a história, seu
amadurecimento precoce, mas necessário, tornando-se um rapaz confiante, forte,
e, ao contrário do que todos o faziam se sentir, bonito, eu não posso s=negar
que a caminhada de Bosten, as coisas que ele passou – que seu namorado passou
depois que todos descobriram que os dois era gays – só o fez atrofiar. Não que
seja fácil seguir em frente depois de tudo o que ele passou. Abuso sexual,
agressões, falta de amor em casa, falta de estrutura... MEU DEUS DO CÉU, ELES
NÃO PODIAM FALAR NO TELEFONE NEM USAR SHAMPOO E CONDICIONADOR... Eu entendo
isso, e o final dele foi tenso, fois bem real, já que é realmente isso que
acontece com garotos que passam pelo que ele passou... Mas no fundo do meu
coração eu realmente imaginei que depois de toda a subida eles conseguiriam
estacionar em um lugar calmo e feliz para viver. Deixar essas merdas todas para
trás... E fiquei muito mal ao ler essa frase, entender que, não importasse o
que fosse, mesmo estando em segurança agora, ele não seguiria em frente “direitinho”.
Ainda tenho vontade de chorar só de imaginar Bosten não seguindo em frente
depois de tudo.
“Às vezes, eu me perguntava o
que os havia deixado daquele jeito, mas Bosten me explicou que não são as
coisas que deixam as pessoas do jeito que elas são. Ele disse que não era como
pegar um resfriado ou coisa assim. Você simplesmente é de determinado jeito”.
Eu peguei esse livro
para ler ao acaso. Estava há 3 dias sem ler nada e falei: “Preciso ler algo”.
Olhei para a estante e escolhi ele na sorte. Nunca imaginei que ficaria assim
depois de lê-lo. Que a experiência de leitura seria tão grandiosa assim. A
forma como a história é contada, os artifícios que o autor usa para mostrar que
Stark é diferente, os espaçamentos, a orelha faltando na parte de trás do
livro, a forma como os pensamentos mais íntimos de Stark são colocados do lado
direito, do lado em que ele não tem orelha e tudo é silencioso.
Eu nunca dei nada para
esse livro. Comprei nem lembro o porque. Se eu soubesse que essa seria a minha
experiência de leitura, já teria lido há muito tempo. Mas acredito que se eu só
fui ler agora, é porque de alguma forma esse era o momento. Eu estou
anestesiado, e posso dizer com certeza que esse foi o melhor livro que eu li na
minha vida.
"Sempre que Bosten me
chamava de Palitoso eu sabia que ele estava planejando alguma loucura. Era
nosso código, a única coisa que nossos pais ainda não tinham descoberto".
31/55 – A melhor leitura
que eu já tive até hoje.