Essa semana eu tive o prazer de ler um livro que
chamou muito a minha atenção pela sinopse. Não esperava me apaixonar por ele
assim, tão fácil e tão rápido. Mas foi impossível me conter. Antes de soltar as
borboletas presas em meu estomago, vamos falar da autora. Para quem ainda não a
conhece, Becky Albertalli nasceu e cresceu nos subúrbios de Atlanta, GA. Tem
escrito histórias desde pré-escolar e geralmente eram sobre seus animais de
estimação. Além de escritora, Becky também é psicóloga clínica licenciada, e
iniciou seu trabalho atendendo crianças, adolescentes e adultos. Amante de
comida – e de quase todas as sobremesas que existem - Becky também atuou por
sete anos como co-líder de um grupo de apoio para as crianças não-conformidade
do gênero em Washington. Ela agora vive com sua família em Atlanta e “Simon vs.
Agenda Homo sapiens” é seu primeiro romance. E convenhamos, QUE ROMANCE
MARAVILHOSO!
“- Não vamos fazer mais nada nunca mais. Não vamos
para a escola. Não vamos comer. Nem fazer o dever de casa.
-
Eu ia te convidar para ver
um filme – diz ele, sorrindo.
Quando ele sorri, eu sorrio.
- Nada de filmes. Odeio filmes.
- É mesmo?
- É mesmo. Por que eu ia querer ver outras pessoas
se beijando, se posso beijar você?
Acho que ele não tem argumentos contra isso, porque
me puxa mais para perto e me beija com urgência. De repente, estou duro, e sei
que ele também está. É emocionante e estranho e totalmente apavorante”.
Simon Spier é gay. Ele sabe disso e não vê problema
nisso. Obviamente ninguém sabe, nem mesmo seus melhores amigos Nick e Leah. Até
então, guardar esse segredo não era um dos piores e mais difíceis deveres da
vida. Ele só ficava na dele, as pessoas achavam ele um cara legal, normal,
hetero, por assim se dizer. Ele, anos antes, chegou até a namorar com algumas
garotas. Nada demais, só uns beijos.
Mas há alguns meses, enquanto bisbilhotava no
Tumblr. de sua escola, ele encontrou um desabafo em relação a essa condição de
vida que o chamou a atenção. Era Blue. Ele amou tanto o que estava escrito que
comentou com seu e-mail – um fake claro, para não mostrar quem era. E foi então
que Blue entrou em sua vida. Ele era da mesma escola, a Creekwood High, do mesmo ano, mas eles não se conheciam. Esse
era o plano: Anonimato. Blue era como um diário para Simon e vice e versa. Eles
contavam coisas que não contavam pra ninguém e também desabafavam tudo o que
podia por e-mail.
Mas num certo dia, Simon teve que entrar no e-mail pela sala
de computação da escola, ele precisava falar com Blue mas estava sem sinal e
sem seu laptop. Resultado: Simon sem querer deixou o e-mail aberto, seu colega
de classe, Martin, viu, deu um print da tela e começou a meio que chantagear
Simon. Martin queria que Simon arrumasse sua amiga, Abby, para ele, e em troca
ele não fazia nada com aqueles e-mails que provavam que Martin era gay e
conversava com outro rapaz da escola. Obvio que era uma chantagem. Simon não
podia se dar ao luxo de ver isso acontecer, de ter sua vida pessoal exposta e
também a vida pessoal de Blue jogada no Tumblr. da escola.
O problema não era nem mesmo todos ficarem sabendo disso,
sabe, seus pais era bem mente abertas, bem avançados mentalmente, e ele tinha
certeza que seus amigos também não ligariam para isso. Mas isso é algo muito
pessoal, muito dele. Martin não poderia fazer isso, era errado, mas Simon meio
que não tinha outra escolha...
“Confesso que gosto de imaginar você criança fantasiando
com comida porcaria. Também gosto de imaginar você agora, fantasiando sobre
sexo. Não acredito que acabei de escrever isso. Não acredito que estou clicando
em enviar”.
Esse é o melhor livro que eu li neste ano.
Acho que pelo fato de uma psicóloga ter feito, esse livro
saiu muito fiel a realidade. E eu digo isso no aspecto social, emotivo e
amoroso. Simon se vê apaixonado por aquela pessoa que fala com ele por e-mail
todos os dias – e quem nunca se apaixonou pela internet? E isso é uma loucura,
já que ele não sabe quem é. Blue é uma incógnita, mas ele se sente muito bem
quando eles conversam. Por algum motivo Blue não quer que isso venha para o
real, assim como Simon, ele também não é assumido. Seus pais são divorciados e
ele tem medo de que se essa relação sair dos e-mails as coisas mudem. Mas tudo
começa realmente a mudar quando Blue começa a escrever no final de cada e-mail
a frase “Com amor”, e também começa a mudar quando eles passam a dar pistas de
quem são sem querer. A palavra para esse livro talvez seja essa: Mudança.
Blue começa a mudar aos poucos, contando que era gay só
para sua mãe, no inicio. Mas a vida de Simon muda de uma hora para outra. Blue
tem grande culpa nisso, mas a coisa pega mesmo quando alguém – sim, nós sabemos
quem foi – posta no Tumblr. um convite para todos os garotos da escola, dizendo
que “Simon se assumiu gay e quer fazer sexo anal pelo cu com todos”. Isso sem
falar no “Bluequete”. Já da pra sentir que isso aconteceu quando Nick e Leah
tentam falar com ele, mas não conseguem. Simon só descobre esse post por sua
irmão, Nora, que também é da creekwood high. Depois disso vem a parte que eu
mais amei no livro.
Simon chega, reúne toda a família e fala aquelas três
palavras. “Eu sou gay”. A reação de todos é de alegria e orgulho. Simon sempre
foi corajoso, e assumir isso, sair do armário, é um ato de coragem imenso. Ao
contrário do que acontece na maioria dos casos, Simon é acolhido por sua
família. “Nós te amamos de qualquer forma”, diz seus pais. Mas mesmo depois de
desabafar, alguma coisa ainda esta estranha, ele sente isso. A vontade de falar
encontrar Blue é maior que tudo, mas parece que fica cada vez mais impossível.
O post some do Tumblr. três dias depois. Quando as aulas
voltam Simon até acha que nada vai acontecer, que ninguém deve ter visto. Mas
não, o bulling é inevitável. Vários colegas o apóiam mas sempre vai ter aqueles
que vão querer transformar tudo em zueira e falta de respeito.
Eu amei esse livro também por conta disso. Por conta dessa
realidade. É isso que acontece, principalmente em escolas de ensino fundamental
e médio. Na minha cidade mesmo, por exemplo, faz umas três ou quatro semanas,
um menino do ensino médio foi espancado na saída da escola por 5 garotos só por
ser gay. Gente? Oi? Que que é isso? Espancar alguém só por ele ter um gosto
diferente do seu? Isso tudo é o que? Falta de certeza a respeito da sua própria
sexualidade? Nós achamos que vivemos em um mundo mais tolerante e sem
preconceito, mas não, não vivemos. O preconceito está ai, na nossa cara, só a
gente que não vê. Sim, esse caso é verdadeiro, eu moro em São José dos Campos,
interior de São Paulo, joguem no Google que aparece. Becky mostra isso em seu
livro, mas mostra também que algo esta sendo feito, os diretores e professores
tomam partido em tudo isso. Dá pra acreditar que aqui, o menino que estudava na
escola e espancou o “colega” por ser gay, foi só suspenso? Sociedade, melhore.
O caso ainda esta sendo investigado, mas as más bocas dizem que o agressor não
era menor, como a escola disse, e também que todos os cinco agressores eram da
escola, ao contrario do que a escola disse, afirmando que só um era da
escola... E o menino foi só suspenso! Migo, tem que suspender a sua vida!
Lógico que no livro são só “brincadeiras” verbais, mas ainda
assim é desrespeito. E a autora mostra com clareza isso. Simon é uma personagem
atípico, forte, não se deixa abater com tanta facilidade a isso. Em uma das
ultimas brincadeiras que acontecem, Martin fica muito mal pelo que fez, por
tê-lo exposto dessa forma, tenta conversar e pedir desculpas, mas Simon
ESCULACHA ele legal.
“É o seguinte: o nome Simon que dizer “aquele que ouve” e
Spier quer dizer “aquele que observa”. O que significa que estou destinado a
ser fofoqueiro”.
Mas, além disso, dessa realidade triste, a autora nos
presenteia, no final do livro, com o relacionamento mais lindo de todos. Obvio
que fui enganado que nem um trouxa sobre quem seria o Blue, mas quando
descobri, quando eles se beijaram... Meu deus, sabe aquele romance que você
quer e anseia e faz de tudo para que seja assim? Repleto de carinho, momentos
de silêncio que são preenchidos com beijos e olhares, escapadas para fazer
coisas bobas, simplórias, mas que têm todo o significado sentimental do mundo
para você... Sabe, esse relacionamento de contos de fadas? É isso. O triste é
que a autora nos dá pouco disso, têm poucas páginas mostrando como está sendo
Simon e Blue juntos. Mas foi o suficiente para eu terminar o livro com lágrimas
nos olhos e uma vontade imensa de ter alguém como eles para mim. Eles são tão
perfeitos juntos, se completam de um jeito tão incrível... Esse é um dos meus
livros preferidos. Ganhou minha cabeceira com louvor.
“Gosto do que não tem fim – digo. – gosto de coisas que não
terminam.
Ele me aperta e beija minha cabeça, e ficamos deitados ali”.
Por favor, leiam, desfrutem do que esse livro pode lhes proporcionar e
comentem aqui, pra gente discutir. Eu podia falar por horas desse livro, mas a
resenha já esta longa e eu preciso terminar. Obrigado Becky, seu livro é sem
dúvidas uma constatação do que temos na sociedade e do que todos buscam, no final
das contas: Respeito e amor.
16/55