12 de setembro de 2016

Resenha - Destinos e Fúrias

Cuidado, pode ter alguns Spoilers!!! Mas leia mesmo assim!
Livro: "Destino e Fúrias"
Autor: Lauren Groff
Editora: Intrínseca
ISBN:  9788580579147
Ano: 2016
Páginas: 368
Skoob: Livro
Estrelas: 4

Sinopse: "Toda história tem dois lados. Todo relacionamento tem duas perspectivas. E às vezes a chave para um grande casamento não está em suas verdades, mas em seus segredos.
Aos 22 anos, Lotto e Mathilde são jovens, perdidamente apaixonados e destinados ao sucesso. Eles se conhecem nos últimos meses da faculdade e antes da formatura já estão casados. Seguem-se anos difíceis, mas românticos: reuniões com amigos no apartamento em Manhattan; uma carreira que ainda não paga as contas; uma casa onde só cabem felicidade e sexo bom. Uma década depois, o caminho tornou-se mais sólido. Ele é um dramaturgo famoso e ela se dedica integralmente ao sucesso do marido. A vida dos dois é invejada como a verdadeira definição de parceria bem-sucedida.
Porém, nem tudo é o que parece; toda história tem dois lados, e em um casamento essa máxima se faz ainda mais verdadeira. Se em Destinos somos seduzidos pela imagem do casal perfeito, em Fúrias a tempestuosa raiva de Mathilde se revela fervendo sob a superfície. Em uma reviravolta emocionalmente complexa, o que começou como uma ode a uma união extraordinária se torna muito mais.
Com profundidade e um emaranhado de tramas, a prosa vibrante e original de Destinos e fúrias comove, provoca e surpreende. Um romance sobre os muitos casamentos possíveis entre o amor, a arte e o poder e sobre os diferentes pontos de vista pelos quais essas combinações podem ser enxergadas.
Romance finalista do National Book Award de 2015 e do Kirkus Prize, eleito livro do ano pela Amazon e diversos veículos de imprensa, entre eles The Washington Post, Time, Slate e Kirkus Reviews. Best-seller do The New York Times, Destinos e fúrias teve direitos de publicação vendidos para mais de 20 países".


***

“Certa vez, ele leu que o sono faz com o cérebro o mesmo que as ondas fazem com o mar. O sono ativa diversos impulsos nas redes de neurônios , e os impulsos são como ondas; apagam o que é desnecessário e deixam só o que importa”.

Eu preciso começar essa resenha deixando claro que essa foi uma das leituras mais difíceis do meu ano. Entre neste livro com certas opiniões formadas por artigos, criticas e comentários que li antes, e, como sempre, em tudo era o que eu li. Acabei me deparando com uma leitura intrincada, um tanto quanto poética, caótica, sexual e acima de tudo amorosa.
Não sei de onde tirei isso, mas presumi que haveria uma separação e que a autora mostraria os dois lados da relação para justificar essa separação, mas nada disso aconteceu. Errei e feio na interpretação de comentários e criticas. A verdade é que a história é muito mais que apenas um casal, muito mais que apenas um casamento, como a sinopse diz. Porque olhando de fora parece simples. Um casamento que não deu certo. Mas não é só isso, e eu acredito que seja por isso que a história seja o sucesso que é no mundo todo.

“- [...] Não, temos que fazer isso o quanto antes. Assim que chegarmos em casa, vou engravidar você para cacete.
- Essa foi a coisa mais romântica que você já disse para mim”.

Para quem não conhece, Lauren Groff já publicou três romances e uma coletânea de contos. Seu primeiro romance, “Os Monstros de Templeton”, foi publicado em Fevereiro de 2008 e estreou na lista dos mais vendidos do The New York Times. Foi bem recebido por Stephen King , que o leu antes da publicação e escreveu uma indicação para a Entertainment Weekly . Além disso, Groff teve contos publicados no The New Yorker , Atlantic Monthly, Five Points e Ploughshares. Seu segundo romance, Arcadia , foi lançado em Março de 2012, recebendo criticas positicvas no The New York Times e Booksense Bestseller, Sunday Times Book Review New York , The Washington Post e The Miami Herald .
Seu terceiro romance, “Destinos e fúrias”, livro a qual dedico minha atenção nesta singela resenha, foi lançado em setembro de 2015. Ele nada mais é que um retrato de pelo 24 anos de casamento a partir de dois pontos de vista. Foi nomeado para o National Book Award, em 2015 para melhor ficção e foi destaque em inúmeras listas de melhores ficção do ano, incluindo a seleção por Amazon.com como o melhor livro de 2015.

“Os dois estavam com os corpos tão colados que, quando riam, a risada dele vinha da barrida dela, e a dela saia da garganta dele”.

Ele, Lancelot, nasceu em berço de ouro. Sua mãe, uma eterna sereia, se casou com seu pai, veja só, dono de uma mina de água. Seu pai sabia que Lotto, como todos passaram a lhe chamar assim que nasceu, graças a empregada, seria grande, inteligente e faria muito sucesso. Ele acertou em quase tudo, só não pode viver para ver isso tudo. Logo sua mãe venderia tudo por uma fortuna e se mudaria da cidadezinha do interior para o litoral. É nesse momento que a vida de Lotto passa a mudar de uma forma descontrolada.
Ela, abandonada pelos pais, pelas suas avó, Aurélie por fim sai da Inglaterra e vai morar com um tio do qual nunca ouviu falar. Ela cresce e aprende a viver no mundo dos adultos, aprende a trazer a tona a Mathilde, uma mulher destemida, corajosa e que não tem medo de nada nem ninguém. Mas nem mesmo Mathilde, em seu auge de coragem consegue salvar Aurelie de todas as provações pela qual ainda irá passar. Para ela o mundo não é nem um pouco fácil e conseguir sua liberdade é o mais importante nisso tudo.
Em certo momento os dois, mais diferentes impossível, se encontram, ele se ajoelha e a pede em casamento. Ela diz “claro que sim” [na verdade ela diz não, mas na versão de Lotto a história fica melhor. Eles vão morar juntos, Lotto não consegue emprego como ator em lugar nenhum e por anos Mathilde sustenta a casa, deixando de almoçar para pagar as contas de telefone. Até que em determinado momento, no fim da linha, na passagem de ano, Lotto se embebeda e descobre que seu futuro não é ser ator. É ser dramaturgo.

“[..] – Você não Lotto, você não passa de um bambi esquisito. A essa altura qualquer outra pessoa entenderia que você não tem talento suficiente para estar no palco. Mas ninguém quer magoá-lo dizendo isso. Muito menos sua mulher, que adora infantilizar sua vida”.

Leituras difíceis, resenhas mais difíceis ainda.
Não posso dizer que foi a leitura mais prazerosa que tive, por que tenha sido em muitos momentos. Groff nos apresenta uma escrita difícil, poética, repleta de signos. significados e significantes. A história é incrivelmente intricada, detalhista, preocupada com o entendimento geral, mesmo que razo, de todos os pontos da história. Somos inseridos inicialmente no mundo de Lotto, em sua história, seu caminho, até que ele encontra Mathilde e se casa. Vemos inicialmente a visão do casamento pelo lado dele. Suas peças, suas tristezas, medos, depressões e no mei do livro o palco muda e nos afundamos em Mathilde.
Meu medo era o de ter que ler a mesmo história duas vezes, só que em perspectivas diferentes. Mas não é isso que acontece. Em determinado ponto, Quando Lotto sai, literalmente, de cena, Mathilde dá continuidade e somos absorvidos por sua história, por seu gênio forte e confuso. “Santa” é o que dizem dela, mas quem lê até o final sabe que ela pode ser muita coisa, menos santa.
É difícil decidir qual lado tomar partido, não que isso seja necessário, já que, como uma história baseada em um casamento de 24 ano, tudo tem um fim e no final são só lembranças. Mas obviamente, quando li, inicialmente, não gostei de Lotto. Tarado, narcisista, LEONINO nato, como a narrativa mesmo informa. Um homem nem tão bonito que fez sucesso com as garotas e encontrou uma que arrebatou seu coração. Um homem que passou anos em uma tristeza profunda, sem trabalhar, sendo sustentado por sua mulher. Um homem que achou a vida toda conhecer a mulher que vivia ao seu lado, mas nunca se deu ao trabalho de perguntar sua história – e que ao primeiro desvio de caminho, na primeira descoberta a respeito de Mathilde, entrou em estado de choque.
Mathilde também não é flor nenhuma. De inicio não vemos muito isso, mas no momento em que ela deixa o jornal na bancada para que Lotto veja que Léo, o compositor, SPOILER morreu, eu notei que havia algo muito sombrio naquela garota. E então vemos sua história. Vemos suas ações, seus pensamentos, suas ações. E realmente me decepcionei ainda mais. Seus pais a abandonam – e depois vemos que com razão -, sua vó a entrega para uma outra avó, avó essa que morre anos depois, assassinada, já que era uma prostituta, e então Mathilde vai viver com seu tio na américa, que banca tudo até seus dezoito anos. E então, depois de uma fria conversa entre os dois, ele decide virar prostituta – desculpem, mas pra mim, o que ela fez, é se prostituir – para pagar sua faculdade. Ela nem tenta outra coisa e tenho certeza que seu tio a ajudaria, ele só estava tentando a acostumar com o mundo, mas não, ela pega o caminho “mais fácil” e vai sem olhar para trás.
Durante toda a parte Fúrias, eu senti uma Mathilde fria, sem muitos sentimentos, tirando os que sentia por Lotto e ainda sente.

“[Luto é dor internalizada, abcesso da alma. Raiva é dor como energia, explosão súbita]”.

Uma história repleta de flashbacks e cheia de visões do futuro. Não existe um tempo ao certo. Vemos o passado deles, o presente e pequenas visões do futuro. Ninguém é só bom, ou só ruim. É tudo bastante agridoce nesse livro. As personagens são fortes, tem presença. Pode parecer um livro difícil – e no fundo é, demorei uma semana para ler -, a escrita é pesada, cheia de adjetivos e pensamentos e aspas e lembranças... Mas acredito que ainda assim essa seja a graça da leitura. Você só vai entender mesmo o que eu estou dizendo quando ler. Quando der a chance. Obviamente não é tudo o que disseram. Vi muitas páginas e pessoa endeusando essa história.
Veja bem: ela é espetacular. É envolvente, bem escrita, bem pensada, louca e atrevida em muitos pontos, mas não é tudo o que ouvi dizerem. Acredito que quem se aventurar, terá uma ótima experiência.
36/55

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