“- Presente é quando você dá
algo especial para alguém por que se importa com a pessoa. Algo que ela vai
guardar com carinho. Isso é um presente.”
Responsável por mais de
30 títulos e uma autobiografia, Lois Lowry Lois, nascida em Ann Hammersberg Noa
no ano de 1937, é a dona da vez. Ganhadora de diversas premiações e famosa por
suas contribuições no ramo infantil, Lowry é conhecida por escrever sobre
assuntos difíceis e delicados – até mesmo em suas obras para as crianças.
Explorando questões
complexas e problemáticas como o racismo, doenças terminais, morte e afins, a
autora também explorou temas muito frágeis e controversos – que chegam a
questionar as autoridades -, que é o caso da série “The giver”, que de certo
modo entrou e não entrou no gosto dos americanos. Em certas escolas faz parte
do currículo escolar, uma leitura necessária e importante, enquanto em outras é
completamente abominado. E é exatamente sobre essa serie que falaremos agora.
Pois minha mão está coçando para dividir o meu encantamento!!!
Kira logo de cara perde
sua mãe – por conta de uma doença devastadora - e passa 4 dias no Campo,
velando sua alma. Ao voltar ao seu povoado encontra sua casa totalmente
queimada – o que já era esperado, pois quando o caso é de doença contagiosa,
essa é a norma padrão, queimar tudo antes que se espalhe – e seu futuro mais
negro que nunca.
Órfa de pai e agora de mãe,
e com uma perna defeituosa, o que será de sua vida? Kira ainda é uma duas
silabas, jovem, e com toda certeza não se casará, pois nenhum cônjuge a escolheria
por conta de seu defeito. Seu trabalho é limitado, já que suas pernas não
ajudam muito, e ainda por cima ela não tinha mais casa.
Seu intuito é o de
levantar a cabeça, refazer sua casa, e trabalhar para se sustentar. Sua mãe,
que sempre a protegia – até mesmo quando o conselho a tentou levar para o
campo, por ser defeituosa – vivia dizendo que sua dor a deixava forte, e era
isso que Kira iria fazer. Mas Vandara nunca deixaria que isso acontecesse.
Em seu povoado as
brigas, a inveja e a vontade de subir na vida eram gigantes. Vandara pôs em sua
mente que o local onde Kira morava com sua mãe, deveria ser dado à aldeia para
virar um “chiqueiro” para por as crianças e as galinhas, independente se aquele
era ou não o terreno de Kira. Ela não desistiria tão cedo disso, chegou ao
ponto em que o próprio conselho foi acionado, e uma audiência marcada. A
pergunta que fica é, Vandara conseguiu o espaço que era de Kira? E Kira? Seu
fim estará no Campo mesmo?
“Em meio a penumbra, ela
observou o cego, o menino desertor e o cão de rabo torto se afastarem pele
trilha. Quando já não podia mais vê-los, dirigiu-se ao que o futuro lhe
reservava.”
Já comecei o livro com
um pezinho atrás. Me disseram que o livro não era legal, e que seria uma perda
de tempo... Mas mesmo assim eu fui. Eu gostei tanto do primeiro volume, que
achei difícil esse sair tanto do rumo. E o que eu encontrei?
Encontrei uma história
linda, com personagens incríveis.
Comecemos por Kira, que
é a principal. Perde o pai ainda neném, perde a mãe quando tem duas silabas e
de quebra perde a casa também. Seu dom está nos dedos, mas ninguém vê isso,
prestam apenas a atenção em sua perna defeituosa. Vandara consegue tirar a sua
casa, o seu terreno e seu pequeno jardim, mas o que espera por ela é muito
melhor. Kira acaba perdendo sua casa de barro, e suas coisas simples, para
ganhar um quarto bem maior que a sua casa, com banheiro, banheira, água corrente
e um trabalho. Ela agora era a bordadeira da túnica usada pelo Cantor. Seus
dedos, como se por mágica, bordam nós que nem mesmo sua mãe, muito experiente,
saberia bordar. Assim como Thomas, o Entalhador, que desde cedo fazia desenhos
complexos e lindos em pedaços de madeira.
Ao contrario de Kira,
Thomas está no Edifício do Conselho desde pequeno, depois da morte de seus
pais.
Lowry nos inunda em uma
história simples, onde bordados contam histórias de uma civilização já muito
antiga, e cores realçam todo esse passado. Sua trama é tão perfeita, que você
só entende a dimensão disso, no fim do livro. Eu passei o livro todo me
perguntando: “Onde isso se encaixa ao Doador de Memórias?” e apenas no fim – e em
uma parte especifica – foi que eu passei a entender.
Matt e Toquinho merecem
o destaque principal da história, pois sem eles, não haveria o Azul e não
haveria essa nova “realidade” apresentada. São os personagens mais simples e
divertidos. Um pirralho de 10 anos, que mora no brejo, que vive sujo e anda pra
lá e pra cá com um cachorro de rabo defeituoso. Vocês podem estranhar agora,
mas é muita paixão para expressar em palavras.
Não espere muita ação,
pois o livro não tem muito disso – não que seja um ponto negativo, pois em
momento algum senti falta dela no livro -, tem o mesmo climax do primeiro
volume, só que, na minha opinião, esse é mais envolvente. Essa coisa de cores,
e bordados, e a falta do azul me chamou muito a atenção, além do modo artesanal
de se tingir as linhas, que me fez ficar apaixonado pelo trabalho, é de uma
poesia linda, criar as flores, entender seus ciclos e extrair no melhor
momentos as cores para se bordar a história da humanidade.
Creio que deixei muita
coisa de lado, para não passar muitos spoilers. O livro é pequeno, fácil de
ler, e muito, muito envolvente. Anabella, Jamison, Thomas, Jo... Falei muito
pouco deles, pois o pouco que eu falar, vai comprometer a leitura de vocês, mas
acreditem, o final é incrível, e tão ruim quanto o primeiro.
Sabe o gostinho de “E ai
gente? O que acontece?” que ficou no “O Doador de Memórias”? Então, vocês
ficarão com o mesmo gostinho neste. Acho que até um pouco maior, pois as coisas
se tornam bem estranhas no fim. Um livro lindo, onde as dificuldades físicas fazem
com que Kira se esforce ao extremo e prove que é forte e capaz. Uma trama onde
nem tudo que é dito é a verdade.
Leiam e se apaixonem por
que vale a pena!
2/50
QUERIDA, BOTA ESSA SUA
CARA NO SOL E SEGURA ESSE FORNINHO POR QUE A GALERA RECORD VEIO PARA DESTRUIR O
SEU EMOCIONAL!
