15 de setembro de 2014

Resenha - O Doador de Memórias

Cuidado, pode haver Spoilers!!!

Livro: "O Doador de Memórias"
Autor: Lois Lowry
Editora: Arqueiro
ISBN: 9788580412994
Ano: 2014
Páginas: 192
Skoob: Livro
Estrelas: 5

Sinopse: "Ganhadora de vários prêmios, Lois Lowry contrói um mundo aparentemente ideal onde não existe dor, desigualdade, guerra nem qualquer tipo de conflito. Por outro lado, também não existe amor, desejo ou alegria genuína. Os habitantes da pequena comunidade, satisfeitos com suas vidas ordenadas, pacatas e estáveis, conhecem apenas o agora - o passado e todas as lembranças do antigo mundo foram apagados de suas mentes. Uma única pessoa é encarregada de ser o guardião dessas memórias, com o objetivo de proteger o povo do sofrimento e, ao mesmo tempo, ter a sabedoria necessária para orientar os dirigentes da sociedade em momentos difíceis. Aos 12 anos, idade em que toda criança é designada à profissão que irá seguir, Jonas recebe a honra de se tornar o próximo guardião. Ele é avisado de que precisará passar por um treinamento difícil, que exigirá coragem, disciplina e muita força, mas não faz idéia de que seu mundo nunca mais será o mesmo. Orientado pelo velho Doador, Jonas descobre pouco a pouco o universo extraordinário que lhe fora roubado. Como uma névoa que vai se dissipando, a terrível realidade por trás daquela utopia começa a se revelar. Premiado com a Medalha John Newbery por sua significativa contribuição à literatura juvenil, este livro tem a rara virtude de contar uma história cheia de suspense, envolver os leitores no drama de seu personagem central e provocar profundas reflexões em pessoas de todas as idades."

***

“- Se tudo é sempre o mesmo, então não há escolhas! Quero acordar de manhã e decidir coisas! Hoje vou vestir uma túnica azul ou uma vermelha. - Baixou os olhos para si, para o tecido sem cor de sua roupa. - Mas é tudo igual, sempre.”

Somos transportados até a vida de Jonas, um jovem de 11 anos, prestes a completar 12 e ver sua vida mudar completamente. Quando chegam aos 12 anos, os até então 11, são designados para uma função perante á comunidade. A partir desse momento, começam a treinar para exercer uma função durante toda a sua vida. E Jonas está receoso por isso.
Não se aprofundou o bastante em apenas uma coisa, como seus amigos fizeram. Fiona prestava suas horas de voluntariado sempre na Casa dos Idosos, estava na cara que seria escolhida como Curadora de Idosos. Asher, seu melhor amigo, e um tanto quanto engraçado, Vivia no centro de recreação, e teve como atribuição Diretor-Asissistente de Recreação, e assim por diante.
Mas e Jonas? Ele sempre foi muito inteligente, esperto, respeitoso, decidiu por experimentar de tudo, sem se aprofundar. E esse o problema.
Em uma sociedade onde a mesmice foi adotada como uma regra de sobrevivência, cores não são mais vistas, amor já não mais existe da forma em que o conhecemos, chuva, vento, sol, o próprio clima é controlado, sem montanhas, colinas... Sem neve... Os casais são formados a partir de um conselho. Não existe mais o sexo. Casais são formados para constituir uma unidade familiar, criar e educar crianças – um garoto e uma garota – e nada mais que isso. Mas e como a sociedade se “procria”? Existem as Mães-Biologicas, elas são escolhidas e podem “Parir” até três crianças, depois são encarregadas de trabalhos braçais pelo resto da vida. Uma sociedade distópica, “evoluída”, onde a precisão da linguagem era uma das regras mais importantes.
No dia da Cerimônia de Atribuição, Jonas seria o 19º a ser chamado, mas algo acontece, e a Anciã-Chefe pula seu numero. Todos percebem, ficam “incomodados” com isso, afinal, pular um numero e causar desconforto ao publico e ao numero não chamado é uma falta de educação. Mas existe um motivo para isso. Jonas, ao fim da cerimonia seria encarregado de uma das maiores honras daquela comunidade. Receberia a Atribuição de Receber de Memórias.

"Quando não há memorias, a liberdade é apenas uma ilusão."

Como é possível uma história tão complexa, singular e cativante estar contida em um livro tão pequeno, de 192 páginas?
Lois soube escrever uma distopita maravilhosa, simples, que faz você pensar a todo momento nos fatos descritos. Onde já se viu uma sociedade que não vê cores? Que tem um clima controlado, nem frio, nem calor, apenas a mesma temperatura de sempre, a mesma mesmice de sempre, pois pensam que assim é a forma certa e mais suportável de viver?
No inicio me senti no livro Divergente, da Veronica Roth. Talvez por que o inicio seja um pouco parecido, com essa coisa de escolher, mudar a vida toda e etc -  vale lembrar que esse livro foi lançado em 1993. Mas logo as coisas tomam sentidos diferentes. Tentei “adivinhar” a trama, mas não consegui.
De inicio achei que Jonas não ia aguentar o trabalho que lhe foi passado, que não ia querer aquela vida para si. Errei. Achei que ele se apaixonaria pela Fiona, e dessa forma quisesse fugir com ela, já que por conta das pílulas que eles tomavam o “amor”, “paixão” ou como eles dizem, os “atiçamentos” eram proibidos. Errei. Achei também que ele na aguentaria o fardo das memórias mais pesadas, mas também errei.
Jonas é incumbido de guardar todas as memórias da sociedade, de sua geração e da geração anterior, e da anterior da anterior, e assim por diante. Um fardo pesado, doloso, mas ao mesmo tempo diferente e libertador. Jonas podia ver cores agora – um dom de quem está predestinado á ser um recebedor -, podia mentir – algo terminantemente proibido na sociedade -, e também poderia perguntar o que quisesse, que independente do que do fosse eles teriam de responder-lhe. Mas logo Jonas vê a realidade sobre sua sociedade. Vê a realidade por trás da ultima Recebedora de Memorias, que pediu dispensa, Jonas em certo momento entende o significado da “Dispensa”.
Seu pai, que era responsável de Cuidar dos recém nascidos, havia comentado que pela manha, faria a dispensa de um bebê, pois haviam nascidos gêmeos, e não eram permitidos duas pessoas iguais na comunidade, então o mais gordinho ficaria e o mais magrinho seria levado para outro lugar. Ele conta ao Doador que gostaria de ver, seu pedido é concedido, e o que ele vê mexe completamente com seu emocional. Todas as pessoas que eram dispensadas, nas verdade eram mortas, e jogadas em uma espécie de “lixo”. Jonas entra em choque, chora, passa a pensar em todas as mentiras que estava a sua volta. Pessoas que eram dispensadas por mal comportamento, idosos, crianças que não se adaptaram... Todos mortos. E a situação se agrava ainda mais quando ele descobre que Gabriel – uma criança que começou a passar as noites em sua casa, pois ainda não havia se desenvolvido direito, e que, assim como Jonas tinha o Dom de Receber memórias – seria dispensado, pois não conseguiu passar uma noite fora do quarto de Jonas – que todas as noites o acalmava transferindo uma lembrança tranquilizadora. Eis que o desfecho do milênio começa, e um  possivelmente um novo recomeço para aquela sociedade começa a ser escrito.
Um livro incrível. Não esperava nem metade do que vi, e amei do fundo do coração. Achei o final horrível! Não me conformo com aquele fim, espero que no filme seja melhor! Como assim o livro acaba daquele jeito? Eles conseguiram? Morreram? Que musica era? Era natal?
Espero que gostem desse livro da mesma forma que eu. Devorei ele em 2 dias. Uma leitura deliciosa. Parabéns á Lois, e espero que ela faça uma continuação, por que se não, a coisa vai ficar tensa pra ela!

Um comentário:

  1. Parabéns pela resenha. Ficou excelente. Assisti ao filme e gostei. Agora quero ler o livro. Abraço e sucesso ao blog.

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