11 de maio de 2015

Resenha - Dois garotos se beijando

Cuidado, pode ter alguns Spoilers!!! Mas leia mesmo assim!
Livro: "Dois garotos se beijando"
Autor: David Levithan
Editora: Galera Record
ISBN: 9788501102096
Ano: 2015
Páginas: 222
Skoob: Livro
Estrelas: Todas as que existem

Sinopse: "Baseado em fatos reais e em parte narrado por uma geração que morreu em decorrência da Aids, o livro segue os passos de Harry e Craig, dois jovens de 17 anos que estão prestes a participar de um desafio: 32 horas se beijando para figurar no Livro dos Recordes. Enquanto tentam cumprir sua meta — e quebrar alguns tabus —, os dois chamam a atenção de outros jovens que também precisam lidar com questões universais como amor, identidade e a sensação de pertencer. ".


***

"Você gasta tanto tempo e tanto esforço tentando se manter firme. E então, tudo desmorona de qualquer jeito."

Talvez eu não tenha capacidade o suficiente para explicar o que esse livro é. Talvez eu não possa expressar em miseras duas paginas de Word – meu limite máximo para uma resenha – o sentimento que o livro me fez ter. É muito mais que dois garotos se beijando para quebrar um recorde mundial e ao mesmo tempo fazer um protesto. É muito mais que uma história gay. Esse livro é um manifesto, uma protesto, um desabafo.
Essa não vai ser uma resenha como as outra, com um padrão e tudo aquela bobeiragem. Ficou maior que o normal, mas eu amei o livro, então que se fuck!

“Dezenas de milhares de pessoas vão morrer antes que os remédios sejam feitos e os remédios sejam aprovados. Que sensação horrível é de essa a de saber que, se a doença tivesse afetado primeiramente presidentes de associações de pais e mestres, ou padres, ou garotas brancas adolescentes, a epidemia teria acabado anos antes e dezenas de milhares, se não centenas de milhares de vidas seriam salvas. Não escolhemos nossa identidade, mas fomos escolhidos para morrer por meio dela”.

Somos inseridos em três histórias e uma realidade. A primeira histótia é a de Harry e Craig. Dois ex-namorados que decidem quebrar um recorde mundial e ficar 32 horas, 12 minutos e 10 segundos se beijando. Harry tem o apoio de seus pais, que o conhecem e o aceitam da forma que ele é. Craig não. Seus pais ainda não sabem.
A segunda história é a de Avery e Ryan. Avery é um garoto gay. Ryan é um garoto que nasceu no corpo errado. Ele é transex. Os dois se encontram em um baile gay, Um de cabelo rosa e o outro de cabelo azul. E nós sabemos o que acontece depois dali.
A terceira e, na minha opinião, a que mais me agradou, é a de Cooper. Um garoto de 17 anos não assumido, que sem querer deixa uma pagina de bate papo aberta e seu pai acaba lendo tudo. Seu mundo vira de cabeça para baixo. Ele não tem amigos, não tem namorado, sua vida são as mentiras contadas nas redes sociais. São as conversas maliciosas que nunca vão se concretizar. Hoje ele tem 17 na vida real. Na rede ele pode ter 19, 20, 34 anos. Na minha opinião a sua história, o seu trajeto, as suas vivencias e sentimentos, são os que mais nos emocionam.
A realidade que eu disse é a do narrador. É o que acontece. É o que se sente. São as ações, as palavras, as pessoas que morreram e que ainda olham por todos. As pessoas que ficaram pelo caminho, que não foram apoiadas, amadas de verdade. Deixadas para morrer por conta de uma crença errada, de um preconceito ignorante e sem fundamento.
As histórias são linda, são contadas de forma delicada, afetiva, sensíveis. Os conflitos são relatados de forma verdadeira, sem nada de politicamente correto, mas de todo o livro é a narração de Levithan que merece aplausos. Me perdoem se estiver errado, mas o que eu entendi de toda essa narrativa linda e verdadeira é que o autor, tomando como base a história do preconceito, se transformou em todos os homossexuais que morreram no passado por conta da ignorância da sociedade. Que morreram por falta de informação. Por medo, nojo ou raiva de quem eram. Ele traça um limite tênue entre a sua geração, entre o estouro da AIDS e a nossa geração.

“Minha geração gay é bem curta; atingi a maioridade nos cinco ou seis anos que existiram entre o pico da epidemia de AIDS e a proliferação da Internet, sendo que a primeira coisa definiu a geração antes de mim e a segunda definiu a geração depois de mim”. – David Levithan.

É como se o autor quisesse dizer que todas aquelas pessoas que morreram, que foram dizimadas pela doença, ou pelos corações quebrados, ou que fugiram, ou que se mataram, ou que foram mortas, ou que apodreceram sem cuidado em hospitais por conta da falta de amor ao próximo, estivavam olhando por todos os que são como eles. Como se eles estivessem cuidando de todos por não terem sido cuidados.
Levithan mais uma vez surpreende com uma história sem capítulos, mas sim intercalada entre as três histórias. Mostrando o lado bonito, o lado não tão bonito assim, mostrando a ignorância de uma parcela da população, mostrando os conflitos internos e externos dos personagens. Eu me senti parte do livro de tão forte que é a narrativa.
Somos expostos. É tudo muito mais visceral do que parece. A busca pelo amor, pela aceitação, pela compreensão, pelo controle, pelo respeito, o autor expõe seu pensamento, sem ter medo em falar que a Fox é preconceituosa, sem medo de dizer aos pais que eles vão perder seus filhos – ou eles fogem, ou se perdem, ou morrem. Eu não tenho palavras mais para descrever esse livro.
Leiam, mergulhem, sintam. É isso. Principalmente, entendam. Não é uma escolha é uma condição.
Obs.: O recorde realmente existe, Matty Daley e Bobby Canciello se beijaram por 32 horas, 30 minutos e 47 segundos. Infelizmente um estudante universitário realmente se jogou da ponte, quatro dias depois desse recorde, seu nome era Tyler Clementi, também era gay, mas sua história não é a do Cooper, a inspiração para o personagem Cooper veio dele, mas sua real história pertence apenas e unicamente a ele.
Achei que não conseguiria escrever essa resenha, mas no fim, adorei o resultado e espero que vocês tenham gostado também.
15/50

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