Cuidado, pode ter alguns Spoilers!!! Mas leia mesmo assim!
Livro: "No centro da terceira fileira"
Autor: G. C. Neves
Editora: Chiado Editora
ISBN: 9789895126163
Ano: 2015
Páginas: 278
Skoob: Livro
Estrelas: 3
Sinopse: "Você conseguiria imaginar o que a pessoa ao lado está vivenciando? Alguma pessoa já conseguiu dominar os seus sentimentos e as suas atitudes? Você já fez isso com alguém? Até que ponto a brutalidade de um homem pode ser dominada pela simplicidade de uma mulher? Beleza, um corpo esbelto ou popularidade seriam pontos fortes ou sinais de fraqueza? Quem está em vantagem no jogo da sedução?
Perguntas como essas são respondidas nesta obra, que aborda as coisas simples desses confrontos cotidianos, de maneira crua e por muitas vezes obsceno. Descaso, confiança, amor, sedução e sexo são coisas tão banais e tão presentes em nossas vidas que, quando fogem ao nosso controle, nos perguntamos onde erramos. Contudo, na verdade, sem querer, permitimos que elas estivessem sempre a nossa frente".
***
Robson nunca foi o
melhor aluno da escola e já chegou até a repetir um ano, mas agora estava
determinado a passar no vestibular para medicina. Para isso estava fazendo um
cursinho pré vestibular e metendo sua cabeça nos estudos. A rotina era sempre a
mesma: acordava, ia para a cozinha, ligava o fogo para esquentar o café,
enquanto isso vestia o uniforme, arrumava seu topete, pegava a pasta, tomava
seu café e comia uma torrada com manteiga. No caminho para o cursinho, sempre
cortava caminho pela orla do Rio para ver e sentir o mar e então pegava o
ônibus. Chegava sempre mais cedo para estudar a matéria das aulas que viriam e
sempre se sentava ali, no centro da sala, pois ali era o melhor lugar para se
ficar. Não muito longe, não muito perto e a visão da lousa e do professor eram
perfeitas.
Mas isso mudou quando
Bel, ou Izabel, uma colega de classe entrou no seu caminho. A primeira
impressão que ficou foi que ela era uma forgada, pedindo para ele guardar
lugar, pois ela sempre estava atrasada. Como ele não ligava para nada nem
ninguém a não ser os estudos, foi rude como de costume. Mas no outro dia se
surpreendeu ao ver que o melhor lugar da sala já estava ocupado. Bel havia
chegado mais cedo para guardar lugar para suas amigas e ela.
Foi nesse momento que
ele passou a reparar na garota. Em seus cabelos, em seus seis, na sua bunda em
sua coxa... Até as outras amigas dela, Val, Rê e Gi ganharam sua atenção e
apelidos próprios – conversaremos mais para frente sobre isso.
Rob agora estava
perdendo a atenção nas aulas. O cara estava hipnotizado. Mas mal sabia ele que
esse era apenas o começo do seu drama.
“- Não beba! Quero você sóbria!
- Por quê?
- A noite é uma criança! Quero
beijar todo o seu corpo!”.
Rob é aquele cara que é
bonito mas finge que não sabe o que é. Porte atlético, corpo seco, definido,
mas não bombado, moreno de praia... Aquele cara que fica bonito só em acordar.
No inicio do livro o autor nos mostra uma Robson bem ranzinza, machista até não
sobrar mais espaço. Grosso, rude e até um pouco sem educação. Mas depois, essa
mascara toda cai e ele se mostra um cara apaixonado, perdido pela mulher de sua
vida. As vezes até bem possessivo e grudento.
Se você olhar por cima,
a história toda muda de forma bem abrupta, e isso é bem interessante. O
interesse inicial parece mudar de uma hora pra outra e puff, Rob deixa de
gostar de uma e cai de quatro por outra.
Além disso, a forma como
o autor introduz os personagens é incrível. Despretensiosamente Solange e Júlio,
vulgo Zero Um, entram em cena e passam a adicionar ainda mais no enredo. As
locações variam entre o apartamento de Rob, o curso e de vez em quando uma
externa, como a casa de alguém ou as viagens de bicicleta pelo rio. Também
temos, na maior parte do livro a inserção de conversas feitas na carteira das
aulas, já que quase tudo acontece durante as aulas. E é por isso que notamos a
real mudança em Rob.
Passou de um cara
ranzinza focado nos estudos, para um cachorrinho abanando o rabo pela sua dona,
literalmente. O livro de certo ponto é envolvente, quente e bem sensual, assim
como é bem machista e um pouquinho assim preconceituoso. Mas calma, eu explico.
“- Você se sente
manipulado?
[...] – Honestamente...
Não sei”.
Três pontos que me fizeram
perdurar a leitura foram, em primeiro, o machismo dos personagens, que eu acho
que é uma característica forte de todos os rapazes da história. Sabe, esse bate
papo entre homens que sempre tem aquele teor de sacanagem e machismo? Pois bem,
isso tem de monte. Fiquei bem incomodado com a forma que, pelo menos no inicio,
de um jeito mais forte, os caras se referem as mulheres. Sei lá, pra mim seria
bem humilhante uma mulher ouvir aquilo de si. Não sei se é assim na vida real,
nesse papo de homem para homem, mas se for, é hora de intervenção (risos). Isso
empobrece demais o personagem. Ele perde toda e qualquer característica
positiva que tenha por conta de um comentário como “Fazer ela mamar pra ver se
ela aguenta”. Pesado né?!
Junta a isso tem também
aquela pontinha preconceituosa, em relação a uma possível lésbica e também em
brincadeiras internas. Viado, bichinha, viadinho. Não sei, me pareceu bem
desnecessário. Eu estou acostumado a ler livros onde não há esse tipo de coisa,
de atitude e pensamento, talvez seja por isso que houve essa estranheza da
minha parte. Normalmente os livros que leio são totalmente contra esse tipo de
palavras. Desculpem, eu amo David Levithan e Chimamanda... Faz parte de mim ser
contra esse tipo de discurso, por mais que esteja empregado em conversas
pessoais e brincadeira entre amigos.
E o ultimo ponto é a
escrita. O autor escreve maravilhosamente, isso não há o que negar, é visível para
qualquer um. Mas essa coisa de colocar aspas em gírias e palavras abreviadas na
hora da fala atrapalha e muito a leitura. Estamos acostumados a, quando
aparecer uma aspas, prestar mais atenção e de certa forma mudar a jeito de ler,
pois tecnicamente o que está entre aspas é algo diferenciado, algo mais
importante, uma fala de terceiros, ou até mesmo algum tipo de reação da
linguagem, como ironia, sarcasmo e etc. Colocando em todas as falas e gírias as
aspas, a gente acaba perdendo o timing da leitura e isso incomoda demais.
Tirando isso, o autor
realmente consegue te envolver e deixar sua cabeça louca. De verdade, essa
coisa de “fala, não fala”, sabe essa excitação adolescente em não falar na
hora, e enrolar, e ao invés de falar na lata ficar floreando o assunto... Isso
o autor acertou em cheio, deixando qualquer um que lê muito nervoso. “Meu, pelo
amor de deus, fala logo!”, é isso que você pensa em muitas partes.
Principalmente nas conversas de cadeira, meu deus, como eu sofri com a falta de
precisão... (risos)
Uma leitura maravilhosa,
que eu sem dúvidas indico para todo mundo. Se tiverem a oportunidade de
conhecer a história, façam, não vão se arrepender. Algo que me chamou bastante
a atenção é em como a nossa rotina fala sobre nós. Como ela afeta e esclarece o
nosso estado de espírito. G. C, neves faz isso. Ele transparece sentimentos e
estados de espírito por meio da rotina de Rob, e isso é maravilhoso.
11/55