Cuidado, pode ter alguns Spoilers!!! Mas leia mesmo assim!
Livro: "Outro dia"
Autor: David Levithan
Editora: Galera Record
ISBN: B0000019HIIDFY
Ano: 2016
Páginas: 326
Skoob: Livro
Estrelas: 5
Sinopse: "Um dos mais inovadores autores de livros jovem adulto e o primeiro a emplacar uma trama gay na lista do New York Times, David Levithan retoma a sua mais emblemática trama em "Outro Dia". Aqui, a já celebrada — com várias resenhas elogiosas — história de "Todo Dia" é mostrada sob o ponto de vista de Rhiannon. A jovem, presa em um relacionamento abusivo, conhece A, por quem se apaixona. Só que A, acorda todo dia em um corpo diferente. Não importa o lugar, o gênero ou a personalidade, A precisa se adaptar ao novo corpo, mesmo que só por um dia. Mas embarcar nessa paixão também traz desafios para Rhiannon. Todos eles mostrados aqui".
***
Sofri um pouco, mas aqui
estamos nós! Um ano não começa depois que o carnaval acaba e sim depois que
você finalmente lê um livro novo do David Levithan. Para quem ainda não sabe
quem ele é, Levithan é um dos editores de livros infantis e um autor mais
premiados dos EUA. Publicou o seu primeiro livro, “Boy Meets Boy”, em 2003 e
suas obras têm provocado protestos de conservadores de direita. Levithan também
é um dos fundadores da editora PUSH, dedicada à Literatura para Jovens Adultos,
e que é uma das marcas da Scholastic Press. Você já deve ter ouvido falar em
seus livros. Entre eles temos “Garoto encontra Garoto”, “Dois Garotos se
beijando”, “Will & Will” parceria com John Green, “Me abrace mais forte” e “Todo
Dia”, livro que deu origem ao livro que discutiremos brevemente aqui hoje. Hoje
eu trouxe para vocês o livro “Outro Dia”, a mesma história do primeiro livro,
só que na visão de Rhiannon.
Preparados?
“Me dói o fato de eu poder
estar tão cheia dele e ele estar tão vazio de mim”.
Para Rhiannon aquela
seria apenas mais uma segunda-feira. Com toda certeza Justin, seu namorado, não
estaria tão bravo, mas seria o Justin de sempre. Eles haviam meio que discutido
no final de semana por conta de coisas bobas, como sempre acontecia. Hoje ela
esperava encontrar o Justin de sempre. Aquele não liga pra nada, que odeia
tudo, menos ela. Seus amigos a questionavam sempre a respeito daquela relação
que de fora parecia não valer a pena. Para os outros, Justin não passava de um
grande babaca mal humorado. Mas eles não conheciam o Justin de verdade.
Rhiannon pelo menos acreditava conhecer.
Até que ele a tirou da
aula e perguntou o que ela queria fazer. Qualquer coisa que ela quisesse.
Justin estava diferente, não parecia o Justin de sempre. Eles acabam indo para
a praia e o dia é perfeito. Justin estava perfeito. Não parecia nem uma
centelha do que ele costumava ser. Rhiannon pedia internamente que aquilo
durasse para sempre. Ela queria mais daquele Justin e menos daquele Justin que
transava com ela quase todas as tardes depois de jogar vídeo game.
Mas no dia seguinte, lá
está, o Justin de sempre. Ela até pergunta se ele não quer fugir de novo, mas
ele se irrita e muda de assunto. O que havia acontecido? Porque ele havia sido
tão incrível na segunda e depois, no dia seguinte, estava agindo como se nada
houvesse acontecido?
Nesta mesma semana,
ainda encucada com o que havia acontecido com seu namoro, Rhiannon acaba
mostrando a escola para uma aluna que se mudaria para lá em alguns meses... Ela
gosta da garota. Existe algo de familiar nela. Em seu jeito. Assim como
acontece em uma festa, na casa de Steve, seu amigo, quando Nathan aparece e
começa a conversar com ela. Eles dançam, conversam, se divertem. O rapaz acabou
sendo a salvação da festa... Quando a policia aparece para acabar com a festa,
ele pede o e-mail de Rhiannon e desaparece. Mas Rhiannon fica com aquela
sensação estranha em relação a ele. É nesse ponto, entre dançar com Nathan e
desconhecer as atitudes de Justin, que a vida dela começa a mudar e nem sequer
percebe. A estava entrando em sua vida.
“Não faço ideia de que horas
são, nem de que dia é hoje, não tenho nada além do agora. Nada além do aqui. E
isso é mais do que o suficiente”.
Como falar desse livro?
Como expressar esses arrepios que só esse autor maravilhoso sabe causar durante
a leitura? É tão cansativo e difícil falar de qualquer coisa que venha do David
Levithan. Sabe por quê? Porque é muito sentimento envolvido, o autor inunda sua
cabeça de sentimentos, de momentos, de reflexões. Ele te transborda e isso é
ótimo. Por que era isso que eu precisava, precisava que alguém finalmente me
transbordasse.
Temos de volta a
história de A e seu drama diário de acordar no corpo de pessoas diferentes. Só
que dessa vez, ao invés de assistir a corrida de A, somos apresentados a
realidade triste e conformada de Rhiannon. Uma garota que ama um garoto que não
merece seu amor.
Esse livro é para isso.
Para mostrar que certas relações só acontecem por comodidade. É fácil continuar
com o que se tem, com o que é fácil. Ela o ama, e acha que ele a ama também. E
isso é o bastante. Eles saem juntos, conversam poucas vezes – na maioria ele é
um verdadeiro escroto com ela -, transam regularmente e pronto. Temos um
relacionamento. Mas é isso que ela quer? É esse tipo de relacionamento que ela
quer construir?
Justin parece ser aquele
garoto que pode ser o que, ou quem, quiser. É lindo, perfeito, popular, mas, em
algum momento da vida, decide ser o antissocial, grosso e sem educação. Não dá
valor a namorada que tem, só fala de verdade com ela quando quer se abrir e
descarregar sua raiva em relação a alguma coisa que deu errado em sua vida. É
uma via de mão única. Quando Rhiannon tenta conversar, ele a corta, é seco,
grosso e não quero ouvir nem dar atenção. Dá para se concluir que ele quer
namorar com ela pelas partes boas, mas no restante do tempo, quer apenas ficar
sozinho jogando vídeo game.
Ela até acredita que o
ama, mas dai A aparece em sua vida e mostra que ela pode ter algo melhor.
Diferente, mas melhor. Mas essa coisa de aparecer cada dia em um corpo
diferente atrapalha um pouco tudo isso. A distância, a dificuldade, a falta de
respostas... Tudo isso é um empecilho. Mas serve para abrir os olhos de
Rhiannon a respeito de sua vida. E isso é importante.
Apesar de nos deixar
nervosos com essa relação, o autor mostra exatamente o que quer passar aos
leitores: O que você busca em alguém? Realmente, lá no fundo, o que importa é o
que a pessoa é, seu conteúdo, ou apenas quem ela aparenta ser? A resposta eu
acho que todos nós sabemos. Pelo menos na realidade é assim, é só você entrar
em um desses aplicativos de relacionamento e descobrir quanto preconceito
existe nas descrições de perfis. É ridiculamente preocupante perceber que as
pessoas querem espelhar o que as revistas, a mídia e todo esse grande monte de
bosta que nós chamamos de moda, querem impor. Se você não é assim, ou assado,
eu não quero. Tem que ser que nem aquele modelo de cueca da Calvin Klein.
Além disso, vemos por
dentro como é uma relação destinada a não dar certo. Uma relação levada com a
barriga, pois era o que tinha para hoje. “Pelo menos ele não me bate”. Até que
ponto uma relação realmente vale a pena? Por que perder algo que pode não ser
certo, mas que você quer, por conta de algo que você já tem, mas sabe que não
vai dar certo? A questão é se doar. Se não houver doação, não há
relacionamento. É aquele ditado: Lâmpada quebrada não se concerta, se troca por
um nova.
Eu amo esse autor do
fundo da minha alma por conta disso. Por conta de todas essas reflexões sociais
que ele traz intrincada em cada história. A gente até esquece um pouco que o
final do livro não é tão feliz assim – e é inédito, ok, então leiam até o
final. Mas nem tudo acaba bem, ou da forma que desejamos, não é mesmo.
Dramas familiares, relacionamento
destinados ao caos, amores que parecem impossíveis, uma realidade desconhecida,
a dor de amar e não ser recíproco... Meu Deus, casa comigo David, nunca te pedi
nada!
12/55