* Pessoas e fatos aqui postados não fazem parte do mundo real. Nomes fictícios, lugares fictícios e acontecimentos (infelizmente) fictícios.
Apenas um Motivo
Eu pedi apenas um motivo. Nada mais que isso.
Um motivo de que? Do que?
Talvez um motivo para sorrir, para acordar todos os
dias, e não sentir aquela vontade avassaladora de me cobrir com os cobertores e
esquecer do mundo cinza lá fora.
Pedi um apenas um motivo, e recebi mais que isso.
Acordei com aquela luz forte em meus olhos. Era
apenas uma fenda entre as nuvens, mostrando que lá atrás, em algum lugar,
escondidinho de tudo, havia um sol. Ao chão do quarto, um tanto quanto
desconhecido á primeira vista, estavam alguns lençóis, e também um travesseiro,
minhas roupas estavam penduradas em uma cadeira em frente a um computador, pela
porta de correr o vento soprava sua brisa fria de mais um dia de frio em pleno
verão sobre as cortinas brancas da varanda. Sentei-me, sem movimentos bruscos,
para não acordar a pintura logo ao meu lado. Esfreguei rapidamente meus olhos,
tentando lembrar o que eu estava fazendo ali. Onde era ali.
Logo tudo veio á minha mente novamente. Eu já tinha
um rumo, pelo menos sabia onde estava!
Suas mãos abraçavam o travesseiro também branco por
baixo, e logo acima, seu rosto, angelical, dormia profundamente. Cabelo
totalmente bagunçado. O cobertor cobria apenas seu tronco, deixando sua perna
esquerda, curvada, e seus braços á mostra. Apoiei meu queixo em meus joelhos e
apenas observei.
Feliz? Talvez. As pessoas buscam essa tal felicidade
incessantemente, como se fosse a fonte da juventude, como se fosse o pote de
ouro no fim do arco-íris. Mal percebem elas, que, são nos momentos mais difíceis,
e mais tristes que nós mais aprendemos, que nós mais nos conhecemos.
Extasiado.
Eu não estava feliz, estava extasiado. Meu coração
batia tão rápido que chegava a me assustar. Sentia meu sangue correr pelas
veias, ou talvez fosse a adrenalina, ou sim, talvez pudesse ser a felicidade de
uma forma geral e generalizada da coisa toda.
Levantei-me da cama, coloquei um short, e procurei
um banheiro por entre o apartamento. Não o bagunçamos tanto assim. Talvez “F”
possa nos emprestar novamente. Encontrei um banheiro logo ao lado da cozinha.
Apoiei-me no lavatório, abaixei a cabeça e pensei. Pensei nos motivos e
consequências de eu estar ali, fazendo o que eu estava fazendo.
Logo senti duas mãos, calorosas, e pedintes de amor,
me abraçar pela cintura. Uma boca macia, e molhada encostou em meu pescoço,
fazendo-me delirar e arrepiar. Logo recebi um abraço, quente, e um lindo:
- Bom Dia!
- Não tinha como ser melhor! – Me virei, segurei sua
cintura, e deixei que o beijo rolasse. Deixei nossas línguas se cruzarem sem rumos,
só por se cruzarem.
- Nem escovei os dentes ainda! – Disse, se afastando
de minha boca.
- E eu ligo pra isso? – Reencontrei sua boca, e me
demorei mais ainda.
Dizem as más bocas, que um dia tudo acaba.
Dizem por ai, que nada é eterno.
Dizem que o que dizem é verdade.
Eu não acredito.
Me pego sempre pensando o seguinte: Tudo bem, um dia
tudo acaba, mais é impossível que sensações assim desapareçam em algum lugar.
São fortes demais, trazem um sentimento forte demais. São intocáveis. Não podem
apenas se dissipar em algum canto escuro do buraco negro para onde nossas almas
serão levadas. Acredito que nem mesmo a mais escura e deprimente escuridão
consiga dissolver e acabar com essas lembranças e sensações. Nada nem ninguém
tirará esse momento de mim, de minha essência.
Lembrei-me então de um trecho de um livro que muito
me fez pensar. Um livro que me encantou com sua simplicidade e intensidade.
Apertei seu corpo sob o meu, senti seu calor, sua
paixão. Aos poucos levei meus lábios até seus ouvidos e disse, como que num
sussurro:
- Você me faz sentir infinito. E eu gosto... –
Troquei de ouvido bem de vagar, sem pressa. Certas coisas não se apressam, você
apenas sente - ... Gosto muito do jeito que fico quando estou com você.
E da mesma forma que uma pequena formiga encontra o
rastro para voltar ao ninho, minha boca encontrou o caminho de volta para
aqueles lábios que me faziam subir ao céu, descer ao inferno e voltar
rapidamente a terra num frenesi imenso e avassalador.
*Livro citado: As Vantagens de Ser Invisivel
* Ouça: The Smiths - Asleep